domingo, 26 de julho de 2015

A MENINA FRANZINA

A menina franzina não comia mais. Ansiosa em noites de sol intenso, embarcava em seu armário. Seus melhores momentos do dia estavam ali, a um passo dos seus olhos. E era só entrar para sentir da vida um outro colorido. Não importava se não descansasse, ela não sentia sono, sentia vontade de coisas boas. 
Na sala, antes de dormir, seus pais mal olhavam em seus olhos, pois ocupados estavam, absortos em seus mundos "on line" e seus problemas. Era apenas um "boa noite" raso e sem emoção. Nem uma conversa, nem mesmo uma lição.
Ah! Quantas surpresas encontrava na madrugada! Logo logo atravessou a porta. Seus amigos estavam lá, jogando bolas de gude na areia. Nossa, os amigos da escola olharam para ela tão atravessado quando comentou que poderiam arranjar bolas de gude. Nem mesmo procuraram saber o que era, continuaram em seus jogos nos celulares. Ela estava tão perto, mas preferiam conversar no "Zap". Coisa fria, sem emoção! Os amigos do armário sim, sabiam viver! Bolas de gude na areia, brincar de se esconder, queimado, pés descalços sentindo o chão, brincadeiras de pega ladrão. Ah! Não trocava seu armário por nada não! Eles não tinham celulares, mas tinha os mais exemplares pais. Mães que  serviam cachorros quentes depois das brincadeiras,  chamavam para fazers brigadeiros, conversavam sobre tantas coisas. Os pais mal chegavam e se chegavam, arregaçando as mangas, querendo participar. Melhor que a vida no armário não há!

(Taciana Valença)

EU MORO NUM VERSO (TACIANA VALENÇA)