quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Lembranças


Sentia o vento bater no meu cabelo. Olhos fixos na janela observavam as montanhas.
Vez por outra olhava firme a estrada.  O mundo era tão grande, pensava.
Os morros de cabeleiras verdes pareciam gigantes. Amedrontadores. Enfeitiçadores.
Do banco de trás olhava o perfil do meu pai. Suas mãos ao volante davam a sensação de segurança. Agitado, o lenço vermelho de minha mãe despertava minha atenção, mais do que sua voz firme, sempre tão segura. Será que ela nunca tinha dúvidas? Talvez não. Nem sei.
Muitas vezes pensava por que estava ali, por que aqueles eram meus pais e além daquela longa estrada, para onde iríamos? Estrada, tempo, vento, pessoas e vida, coisas que até hoje encabulam meus pensamentos e embrulham meu estomago.
O que será que eu vim fazer aqui?

(Taciana Valença)

sábado, 8 de fevereiro de 2014

 
MATURIDADE

Natural filtro sobre a escuta
Lentes aguçadas,
Recusam imagens que não acolhem,
Beleza agora é a que encanta,...

A que fica, a que a alma observa,
Tudo é mais transparente,
Boca cede lugar aos ouvidos,
Palavras, apenas suficientes,
Muitas coisas não mais convencem,
E tentar impressionar não funciona,
Há em mim uma dona,
Pacífica, revolucionária e quieta -
D'uma pureza esperta,
Que só atende pelo nome
Pois não valoriza tarjas, sobrenomes ou grifes,
Em nome de tantas burrices,
Das vazias almas, das "espertisses"
O que há hoje é muito além,
Do que se mostra, do que se diz, do que convém.

(Taciana Valença)



sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

CHUVA


Um banho,
Lavar a alma;
Em afago e ternura
Que despropósito!
Apenas pingos,
Lágrimas de vida
Derramam-se em chuvas,
Enxurrada d’afeto de Deus,
Cujo abraço causa-me saudade,
Não sei de que,
Não sei de onde,
Nem mesmo de quando.
 
(Taciana Valença)
 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Sede

 
Ah, essa sede,
sede que nao passa
seca a garganta
sufoca, quase mata;
sede de justiça, de paz
sede de ser mais,
num mundo de menos
sede cachoeira,
salgada de mar;
de leito de rio,
de corredeiras,
sede...sede...,
de ser, de se levar,
do mergulho sem fim
sede do que não há
sede de copo de vida
sede d'água de alheia mao
sede raios, sede trovão,
do impulso, da vida,
da contramão...
 
(Taciana Valença)
 
 


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Sem sentidos

 
Dançar sobre os ponteiros
Desdenhar das horas
N'olhar perdido sobre o leito
Desavessar a insensatez
Mastigar pelas bordas,
Lamber o que transborda,
Mergulhar em temido lago
Afagar o afago,
Dobrar o juízo,
Perder o sentido
 
(Taciana Valença)
 
 
 
 
 


EU MORO NUM VERSO (TACIANA VALENÇA)