quarta-feira, 27 de setembro de 2017

SINA


Se ele, nascido Pessoa,
Nunca será nada,
Compactuo apenas os sonhos
Entre verões e invernadas.
Incógnita, tal ele, 
Entre tantas janelas do mundo.
Catando as estrelas que restam em meu céu,
Comungando dias sem escarcéu,
Deixando rastros na areia
Dos caminhos meus,
Eu, que já nem sei nada, 
Com certezas encostadas ao pé do violão,
Sigo letra de velha canção...
Sim, sou antiquada, sempre um pé atrás,
Morando num tempo que não me cabe,
Rasgando os véus d'uma saudade -
Onde li poemas escondidos,
Escritos às pressas sob a pena
Das mãos suadas, escorregadias,
Como amores que nem mais são,
Entulhando o vão que não se preenche,
Feito rio que transborda enchentes
A rolar pedras que se despedaçam,
Sou coração em pó desfeito,
Enche, seca, morre no leito

(Taciana Valença)

sábado, 16 de setembro de 2017

## DOS VENTOS ##


Ventos de agosto que reverberam,
Entrando impávidos setembro adentro,
Leva e trás de emoções,
Varrendo, arrancando, levando...
Bons e maus ventos,
Sobre o justo e injusto -
Míseros seres humanos expostos
Aos agostos e gostos do tempo,
Vento a modelar paisagens,
Insinuar miragens...
Importante varredura do ar viciado,
Entre monções, brisas e ciclones -
Cheios de nomes e gostos particulares,
Causando enchentes, agitando mares,
Mudando enfim a maré!


(Taciana Valença)

terça-feira, 5 de setembro de 2017

## ACIDENTE ##



Na curva da estrada um tombo. Todo o carregamento espalhado pelo caminho. Eram só poesias. Apenas poesias. Certo, estava lotado, abarrotado de sentimentos, deve ter sido o peso, o peso dos versos entonelados. Estavam agora largadas no asfalto. Algumas voaram morro abaixo, outras subiram aos céus. Foram tantos grudados na pista molhada! 

Um acidente apenas, um trágico acidente numa BR. Mas o pombo ciscou e sapateou em cima de um deles, achando pouco deixou marcado seu excremento esverdeado. Nossa, isso é que é zombrar de sentimentos. Uma delas, talvez a mais leve e romântica estava presa a um galho. Lembro bem dela porque havia um coração mal desenhado à mão.

As demais seguiram caminhos diversos pelo céu aberto. A menina que no parque chorava sentiu algo cair em suas mãos, seriam palavras vindas do infinito? Mas enfim as palavras tornaram seus sonhos mais bonitos. Ao mesmo tempo um casal sentado num banco, que brigavam sem nem mesmo saber o porquê acabou lendo juntos a mensagem do além e sem demora eram um só bem.

Tantas foram as mensagens que agora de nada me serviam. 
Eram mesmo destinadas ao vendo, ao acaso, ao relento…

Agora me despeço dos versos, esses bipolares amigos das horas. Nem sequer mais um deixarei escrito em vagas memórias.

(Taciana Valença)

EU MORO NUM VERSO (TACIANA VALENÇA)