sábado, 30 de março de 2019

DEVANEIOS


Não se fala de boca cheia.
O centro do Universo arde
e eu mastigo a Terra com receio.
Úmida, sem humildade.

Tudo desce goela abaixo.
Então seguro o jorro do vômito
para não ver o asco ir ao chão.
Perdão, perdão, por ser tão pouco.
O ôco incomodativo questiona
se dá pra sair do umbigo 
e ir à porta da casa, subir o morro,
pagar promessa, sem pressa.
Úmida sim, sem humildade.
Os lábios se abrem vermelhos
e a língua rima com teus lábios
que já nem ouvem meus conselhos.
E enquanto o vinho esquenta, eu esfrio,
estudo o hálito, os dedos e as mãos
que erguem a taça do vinho contra a luz;
e ao mover-se em círculos, seduz.
E o mundo é um sedutor algoz
enquanto vítima, me rendo;
fazendo rap com discurso alheio,
distraída ao que me resta, carro sem freio.
O que importa, se ao passar daquela porta
já não te vejo; sem cio, pelo parque vagueando,
dedilhando o banco vazio sob a garoa.
Pele arrepia, coração contrabando.
Vulcão extinto reclama a nova ordem.
Ciclos se vestem com capas de frio
onde nada faz muito sentido
e até mesmo das horas do dia eu duvido.
(Taciana Valença)

EU MORO NUM VERSO (TACIANA VALENÇA)