quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

PERDIDA

  



Necessito lançar meus versos 

em água corrente,

dessas águas de se carregar.

O vento se encarregará?...


Ah!..., bom seria deitar-me 

ao colo de Deméter,

esperar então, a colheita da vida.


Ouvir a voz penetrante de Perséfone,

comer a romã das mãos submundas.

Entregar  minhas necessidades para Anamke.


E que se faça sua vontade.

Em seguida ofertaria 

à intelectualidade de Atena.


Acertaria as arestas, faria jus, 

já que me dizem  poeta.


E Artemis, me ensinaria a guerrear, inteligentemente;

sem antes filosofar espiritualmente com Héstia...

graduando o fogo que arde nos mares de mim.


Sinto o olhar sedutor de Afrodite,

Onde sucumbo e me amparo.


O vento traz um solfejar feminino:

uma canção atraente e sedutora;

talvez seja...Sim!...


Canto da Iara, prestes a afogar-me.

Não!... Não devo ouvir!...


Em qual latitude e longitude ímpar,

situa-se esta ilha que agora me encontro?

Oceano? Qual?


Perdi todas as coordenadas 

neste maremoto de emoções.

Minha mente está à deriva...


Que amanhã, assim como Rá,

seja expulsa pela vulva de Nut.


Adentrarei todas as noites 

em sua boca entreaberta.


E renascerei,  todos os dias

que ainda me restam.


Taciana Valença


quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Quitute



 

Year of the cat

Monday, January 17, 2022

Year of the cat

 Ao varrer a última folha do quintal, 

reminiscências ainda burilavam a mente, 

já havia passado o ano do gato...

A despeito das carícias dos fragmentos bons

Quis pular aquele ano…

“Year of the cat”, e nem sabia mais 

dos caminhos, da direção.

Porque olvidara que nenhuma direção havia...

Não há o que esperar, e como diz a canção, passagem perdida.

A condução sequer existia!

Os versos martelam enquanto 

num pulo distraído se volta

ao fim do milk shake, 

aos olhos brilhantes que mudam de cor…

Retornam remanescentes convicções e planos! 

A folha varrida volta 

amarelada duma saudade,

dessas com cheiro de perfume 

e nicotina.

Que fica do que não ficou...

Era pra ser só um beijo de menina,

tão inocente quanto pular um muro

em busca de uma paixão…

Porém a culpa tumultua

e atua forte a consciência.

O muro parece mais alto,

a razão acusa e grita: Não!

“Year of the cat”… um salto de ilusão.


Ronaldo Rhusso / Taciana Valença



Sufôco




Seria vexame asfixiar,

debater enquanto sufôco,

se ver escurecer em prece.

Quem merece?

Conhaque, queimando entranhas,

amanhecer no labirinto da vergonha

sob o peso de uma fronha!


Era encontro de hora marcada,

de pontualidade medonha.

Não, não se mata assim -

não o que em si vive;

um desrespeito com a cegonha.

Deixe o cão enraivecido ladrar

lá do alto dos seus infernos!


As mãos levadas aos ouvidos

já não querem mais ouvir

palavras que escorrem da boca

sem freios, amargando na sala vazia

a frieza doce dos lábios descoloridos.

Mas sim, eu duvido

que sufoque até o grito!


Corre a buscar outro gole -

anestesiando a alma que sobe

pelas paredes e adormece no teto

gemendo pelo ausente,

buscando a São Clemente,

que decifre este mistério 

pelas sombras deste labirinto.


No mais que se finde o pesadelo,

o ar que falta sob o travesseiro,

o veneno, que pela dor deixou-se matar

e que por isso alguém viveu…

a manhã enfim trará o milagre

que se desprendeu das entranhas

amanhecendo em flores verdades.


Taciana Valença

 

sábado, 8 de janeiro de 2022

Vigias do alheio ( Ronaldo Rhusso/Taciana Valença)

Vigias do alheio

Oh! Lida tosca, a de gente infeliz

que perde as horas dos dias em frestas

da própria vida ignora as arestas...

Seres sombrios que, sem luz, são tão gris...


Tem própria vida, mas não a que quis

e, na tristeza de ser, perde festas

com as manias ruins, indigestas

Cospem friezas nas falas, gentis?


Vivem das sobras e risos de tolos

sempre querendo a quem nunca lhes quer;

surfam na vida de um outro qualquer...


Sobram  telhados de vidro e dolo

num existir mais mofado que bolo

ruim, esquecido e ninguém mais o quer...




Amigos (Ronaldo Rhusso/TacianaValença)


 

EU MORO NUM VERSO (TACIANA VALENÇA)