domingo, 20 de fevereiro de 2022

&& Não mangue &&

 Não mangue da manga 

que caiu no mangue,

da manga  do menino 

que rasgou a manga 

da camisa velha

de manga rasgada

da pesca e da caça

do manjar da vida.


E a fome não tem graça 

e seu ronco tem dentes.

Não mangue 

do menino palafita

dos pés de xié, 

que rasgou a manga

da camisa velha 

pra pegar a manga

que caiu no mangue, 

pra matar a fome.

Não, não mangue,

da boca que espera

a manga que bóia

na lama do mangue.


Taciana Valença 



sábado, 19 de fevereiro de 2022

@@ NONSENSE@@


 

O seu bom senso é só seu olhar.

Vem das entranhas, da vida, vergonhas…

Vem dos princípios do seu caminhar.

Do que viveu ou guardou sob as fronhas.


Vem do seu lar, de um tal educar.

Dos livros lidos, dos eus, das tais manhas.

Do que te forma, das crenças, trilhar…


Não ter bom senso depende de tudo.

Cada um dentro do mundo tão seu.

De um viver sacrifício ou veludo…


O seu bom senso será um nonsense,

que para si pode ter seu sentido,

mas para si, e apenas teu sense.


Taciana Valença 

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

O homem e o poeta



O sei poeta dos bons, respeitado.

Em seus sonetos, perfeitos, deleites.

Com versos ricos e bem estudados,

fala de tudo sem tantos afeites.


Nem sei dos versos avessos na alma,

que inquieta o ser que se cobre,

a tez real por detrás desacalma,

mostrando face, por vezes, não nobre.


Não sendo ele, quem mais? Uma máscara?

Mas no efêmero morre um homem,

ao se perder entre próprias cascas.


Enfim se salvam sonetos tão belos,

entre imagens manchadas e turvas,

dos dois que seguem parceiros eternos.


Morre o homem,

permanece o poeta.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Momento

Dedos deslizam nas teclas, suaves…

num dedilhar inibido, sem pressa.
Cheirando Rhea, num transe, sem traves…
Em cada toque, a marca impressa.

Pele entende, suspiram as partes,
num ofegar ajustado, promessa.
Escondem dedos e línguas apartes.
O afagar entre si que não cessa…

Exaustas mãos se aninham no peito,
acarinhando o corpo amado,
no paraíso por eles eleito.

E não há céu e nem chão, só momento,
até o dia resolve calar
para os amantes comerem o tempo.

Taciana Valença





domingo, 6 de fevereiro de 2022

Meu poema


 

Meu poema 

não tem soberba

nem requinte.

Só vai a lugares

que não precise

de convite.

Senta,

pede uma bebida qualquer,

fala com todo mundo.

Depois fica só,

mexendo o gelo 

do copo e pensando

na besteira que é viver.


Taciana Valença 


 

sábado, 5 de fevereiro de 2022

## INQUIETAÇÃO ##

 

É no vazio que a alma se espalha,

se contorce, se alonga, se aconchega, se encolhe.

Deixa-se não ser nada, sacode a toalha,

na inquietação de não se saber.


O que, exatamente, está acontecendo?

Quem tece esse emaranhado de fios

que nos cerca e nos prende?


E o olhar arde, a gente cansa

de ver, de entender o rebuliço

que permeia entre o vão do riso e choro.


Um fantasma assusta a alegria:

Boooooo! A gente acorda fria,

procurando o engodo que nos cobria.


Depostos dos falsos postos.

Piedade é apenas palavra solta,

num dicionário qualquer ou nas leis ditas de Deus.


O perdão fica por conta de Mateus,

porque aqui a coisa é diferente,

os sentimentos são frios, quase não se sente.


Aqui se mata gente, por preconceito,

por ser um pouco diferente do que

os hipócritas chamam de normais.


Há um ódio regado pelo medo de não ser.

Não se vê leveza nem nas pessoas que

um dia achamos conhecer.


Que mal é este

dos habitantes deste mundo?

Diga-me você.






quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

VAZIO


 E na tristeza do vazio destas teclas também me pergunto, amigo:

Pra onde foi todo mundo?

Tempo


 Aparo a destreza do tempo, 

cortando-lhe os galhos para que se abram em verdes, fartos  e novos caminhos. Viver exige a paciência e sensibilidade de um jardineiro.

Vendaval


 Vendaval


Raras contemplações.

Tênue linha a separar

brisa de vendaval.

Antes distante céu.


Sim, aquele azul 

onde não se pisa,

que não se alcança,

mas de admirável brilho.


Ousadia guardada 

sob véus dilemas.

Melhor não saber,

não entrar, não bater.


Mas eis que chega,

vozes e linhas que se doam

ao encantamento,

já não há vento, só vendaval.


Algo não se estabelece,

apenas cresce,

sem nem mesmo ter

onde se segurar.


Deixa-se ir, ornada

em canções perfumadas,

onde a alma se enverga

a beijar outra alma.

Só rascunho…

 


Sigo a vida

displicente

e ela me segue,

sigo o insta

gravemente

e a vida segue

com rompantes

meus instantes.


Sigo o dia, sigo a lua,

que flutua,

que me encolhe

e me acolhe

quando cresce,

mas me imponho,

sigo um sonho

que padece,

aquieto-me numa prece.


Sigo o único poeta 

que das letras 

faz a festa

e me afeta,

sou Sininho,

sou caminho 

sem as setas.


Ronaldo Rhusso / Taciana Valença 


Foto: Taciana Valença


EU MORO NUM VERSO (TACIANA VALENÇA)