sábado, 23 de abril de 2016

Adormeço sem entender




Talvez percamos o tempo a falar das casas, das castas, 

das capas, dos encapuzados, da luz d'alguns em 

detrimento da escuridão de outros. Da minha janela 

talvez não possa te ver e o que sei é tão pouco que nem 

teu grito ouço. Ouço, ouço, que me lembra osso, ossos 

dos nossos ofícios num país de tantas línguas e 


des(entendimentos). Infantilidade a minha pondo 

créditos em anjos alados e fadas madrinhas que nem

 abrem as portas nem usam varinhas. Rio de mim tantas 

vezes lutando contra um vácuo, agarrando-me a um fio 

de esperança na humanidade que se arrasta e dá 

rasteiras na própria espécie e nem mesmo por 

sobrevivência, mas instinto do mal, a puxar o tapete dos 

que mal andam, mal vivem, mal sentem. Procuro donde 

guardar minha vergonhosa inocência disfarçada de 

altivez num mundo sem vez, tão vil. Fechar a janela na 

mentira da segurança, feito criança que acredita em 

proteção. Adormeço guardando minha luta embaixo do 

colchão. 

(Taciana Valença)

EU MORO NUM VERSO (TACIANA VALENÇA)