sábado, 30 de abril de 2022

Cuidados






Nos meus cuidados, muitas vezes não sei o que fazer com as pessoas. Confesso que não me importo quase nada com coisas, mas pessoas para mim tem um valor inestimável. 

           Cuidar de coisas é tão fácil. Limpa, guarda, doa, joga fora, compra outro quando se estraga, às vezes a gente conserta, se der, e se for de alguma importância. Eu só dou muito valor às coisas quando elas me trazem recordações de pessoas ou são dadas por pessoas que estimo. Aí sim, elas passam a ter realmente um valor pra mim.

          Só que cuidar de pessoas é tão difícil. São tantas particularidades, peculiaridades, tantos “se” a serem pesados e medidos. Às vezes a gente acha que conhece alguém e se encanta com a imagem que criamos. Só que a imagem que criamos se baseia em nós mesmos, em nosso modo de ser, de agir e de entender o mundo. E é aí que a gente se machuca muitas vezes, se decepciona, se entristece e até tira pessoas das nossas vidas. 

          Mas as pessoas que ficam, as que a minha admiração deita e acorda com elas, ahhhhh, essas são as que fazem a diferença na minha vida. Essas são as que fazem valer meus dias, mesmo que não as conheça tão profundamente nas suas reações, assim como também não conheço profundamente nem as minhas, e me surpreendo comigo mesma tantas vezes.

          Que se quebrem vidros, taças, carros. Que jamais eu tenha algumas coisas que tantos cobiçam ou se matam para comprar. Não me importo. Mas um amigo ferido, trincado, quebrado, isso sim, me deixa triste. Assim como um semelhante que sofre por não ter o básico para viver de forma digna. Não importa se não conheço a cada um, mas me fere, como afiada lâmina perfurando o peito. 

          Ahhhh, como me dói o sofrer da humanidade!


Taciana Valença

 


segunda-feira, 21 de março de 2022

DIA DA POESIA


 


E FOI SEM QUERER

QUE CAÍ NOS BRAÇOS

DA POESIA...


São todos os dias que ela me vem.

Nas manhas das manhãs,

no finalzinho da tarde,

quem sabe até no começo?

Na noite enluarada ou sombria...


E assim, ela me oxigena,

ELA ME POESIA...


Taciana Valença

quarta-feira, 9 de março de 2022

domingo, 20 de fevereiro de 2022

&& Não mangue &&

 Não mangue da manga 

que caiu no mangue,

da manga  do menino 

que rasgou a manga 

da camisa velha

de manga rasgada

da pesca e da caça

do manjar da vida.


E a fome não tem graça 

e seu ronco tem dentes.

Não mangue 

do menino palafita

dos pés de xié, 

que rasgou a manga

da camisa velha 

pra pegar a manga

que caiu no mangue, 

pra matar a fome.

Não, não mangue,

da boca que espera

a manga que bóia

na lama do mangue.


Taciana Valença 



sábado, 19 de fevereiro de 2022

@@ NONSENSE@@


 

O seu bom senso é só seu olhar.

Vem das entranhas, da vida, vergonhas…

Vem dos princípios do seu caminhar.

Do que viveu ou guardou sob as fronhas.


Vem do seu lar, de um tal educar.

Dos livros lidos, dos eus, das tais manhas.

Do que te forma, das crenças, trilhar…


Não ter bom senso depende de tudo.

Cada um dentro do mundo tão seu.

De um viver sacrifício ou veludo…


O seu bom senso será um nonsense,

que para si pode ter seu sentido,

mas para si, e apenas teu sense.


Taciana Valença 

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

O homem e o poeta



O sei poeta dos bons, respeitado.

Em seus sonetos, perfeitos, deleites.

Com versos ricos e bem estudados,

fala de tudo sem tantos afeites.


Nem sei dos versos avessos na alma,

que inquieta o ser que se cobre,

a tez real por detrás desacalma,

mostrando face, por vezes, não nobre.


Não sendo ele, quem mais? Uma máscara?

Mas no efêmero morre um homem,

ao se perder entre próprias cascas.


Enfim se salvam sonetos tão belos,

entre imagens manchadas e turvas,

dos dois que seguem parceiros eternos.


Morre o homem,

permanece o poeta.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Momento

Dedos deslizam nas teclas, suaves…

num dedilhar inibido, sem pressa.
Cheirando Rhea, num transe, sem traves…
Em cada toque, a marca impressa.

Pele entende, suspiram as partes,
num ofegar ajustado, promessa.
Escondem dedos e línguas apartes.
O afagar entre si que não cessa…

Exaustas mãos se aninham no peito,
acarinhando o corpo amado,
no paraíso por eles eleito.

E não há céu e nem chão, só momento,
até o dia resolve calar
para os amantes comerem o tempo.

Taciana Valença





domingo, 6 de fevereiro de 2022

Meu poema


 

Meu poema 

não tem soberba

nem requinte.

Só vai a lugares

que não precise

de convite.

Senta,

pede uma bebida qualquer,

fala com todo mundo.

Depois fica só,

mexendo o gelo 

do copo e pensando

na besteira que é viver.


Taciana Valença 


 

sábado, 5 de fevereiro de 2022

## INQUIETAÇÃO ##

 

É no vazio que a alma se espalha,

se contorce, se alonga, se aconchega, se encolhe.

Deixa-se não ser nada, sacode a toalha,

na inquietação de não se saber.


O que, exatamente, está acontecendo?

Quem tece esse emaranhado de fios

que nos cerca e nos prende?


E o olhar arde, a gente cansa

de ver, de entender o rebuliço

que permeia entre o vão do riso e choro.


Um fantasma assusta a alegria:

Boooooo! A gente acorda fria,

procurando o engodo que nos cobria.


Depostos dos falsos postos.

Piedade é apenas palavra solta,

num dicionário qualquer ou nas leis ditas de Deus.


O perdão fica por conta de Mateus,

porque aqui a coisa é diferente,

os sentimentos são frios, quase não se sente.


Aqui se mata gente, por preconceito,

por ser um pouco diferente do que

os hipócritas chamam de normais.


Há um ódio regado pelo medo de não ser.

Não se vê leveza nem nas pessoas que

um dia achamos conhecer.


Que mal é este

dos habitantes deste mundo?

Diga-me você.






quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

VAZIO


 E na tristeza do vazio destas teclas também me pergunto, amigo:

Pra onde foi todo mundo?

Tempo


 Aparo a destreza do tempo, 

cortando-lhe os galhos para que se abram em verdes, fartos  e novos caminhos. Viver exige a paciência e sensibilidade de um jardineiro.

Vendaval


 Vendaval


Raras contemplações.

Tênue linha a separar

brisa de vendaval.

Antes distante céu.


Sim, aquele azul 

onde não se pisa,

que não se alcança,

mas de admirável brilho.


Ousadia guardada 

sob véus dilemas.

Melhor não saber,

não entrar, não bater.


Mas eis que chega,

vozes e linhas que se doam

ao encantamento,

já não há vento, só vendaval.


Algo não se estabelece,

apenas cresce,

sem nem mesmo ter

onde se segurar.


Deixa-se ir, ornada

em canções perfumadas,

onde a alma se enverga

a beijar outra alma.

Só rascunho…

 


Sigo a vida

displicente

e ela me segue,

sigo o insta

gravemente

e a vida segue

com rompantes

meus instantes.


Sigo o dia, sigo a lua,

que flutua,

que me encolhe

e me acolhe

quando cresce,

mas me imponho,

sigo um sonho

que padece,

aquieto-me numa prece.


Sigo o único poeta 

que das letras 

faz a festa

e me afeta,

sou Sininho,

sou caminho 

sem as setas.


Ronaldo Rhusso / Taciana Valença 


Foto: Taciana Valença


quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

PERDIDA

  



Necessito lançar meus versos 

em água corrente,

dessas águas de se carregar.

O vento se encarregará?...


Ah!..., bom seria deitar-me 

ao colo de Deméter,

esperar então, a colheita da vida.


Ouvir a voz penetrante de Perséfone,

comer a romã das mãos submundas.

Entregar  minhas necessidades para Anamke.


E que se faça sua vontade.

Em seguida ofertaria 

à intelectualidade de Atena.


Acertaria as arestas, faria jus, 

já que me dizem  poeta.


E Artemis, me ensinaria a guerrear, inteligentemente;

sem antes filosofar espiritualmente com Héstia...

graduando o fogo que arde nos mares de mim.


Sinto o olhar sedutor de Afrodite,

Onde sucumbo e me amparo.


O vento traz um solfejar feminino:

uma canção atraente e sedutora;

talvez seja...Sim!...


Canto da Iara, prestes a afogar-me.

Não!... Não devo ouvir!...


Em qual latitude e longitude ímpar,

situa-se esta ilha que agora me encontro?

Oceano? Qual?


Perdi todas as coordenadas 

neste maremoto de emoções.

Minha mente está à deriva...


Que amanhã, assim como Rá,

seja expulsa pela vulva de Nut.


Adentrarei todas as noites 

em sua boca entreaberta.


E renascerei,  todos os dias

que ainda me restam.


Taciana Valença


quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Quitute



 

Year of the cat

Monday, January 17, 2022

Year of the cat

 Ao varrer a última folha do quintal, 

reminiscências ainda burilavam a mente, 

já havia passado o ano do gato...

A despeito das carícias dos fragmentos bons

Quis pular aquele ano…

“Year of the cat”, e nem sabia mais 

dos caminhos, da direção.

Porque olvidara que nenhuma direção havia...

Não há o que esperar, e como diz a canção, passagem perdida.

A condução sequer existia!

Os versos martelam enquanto 

num pulo distraído se volta

ao fim do milk shake, 

aos olhos brilhantes que mudam de cor…

Retornam remanescentes convicções e planos! 

A folha varrida volta 

amarelada duma saudade,

dessas com cheiro de perfume 

e nicotina.

Que fica do que não ficou...

Era pra ser só um beijo de menina,

tão inocente quanto pular um muro

em busca de uma paixão…

Porém a culpa tumultua

e atua forte a consciência.

O muro parece mais alto,

a razão acusa e grita: Não!

“Year of the cat”… um salto de ilusão.


Ronaldo Rhusso / Taciana Valença



Sufôco




Seria vexame asfixiar,

debater enquanto sufôco,

se ver escurecer em prece.

Quem merece?

Conhaque, queimando entranhas,

amanhecer no labirinto da vergonha

sob o peso de uma fronha!


Era encontro de hora marcada,

de pontualidade medonha.

Não, não se mata assim -

não o que em si vive;

um desrespeito com a cegonha.

Deixe o cão enraivecido ladrar

lá do alto dos seus infernos!


As mãos levadas aos ouvidos

já não querem mais ouvir

palavras que escorrem da boca

sem freios, amargando na sala vazia

a frieza doce dos lábios descoloridos.

Mas sim, eu duvido

que sufoque até o grito!


Corre a buscar outro gole -

anestesiando a alma que sobe

pelas paredes e adormece no teto

gemendo pelo ausente,

buscando a São Clemente,

que decifre este mistério 

pelas sombras deste labirinto.


No mais que se finde o pesadelo,

o ar que falta sob o travesseiro,

o veneno, que pela dor deixou-se matar

e que por isso alguém viveu…

a manhã enfim trará o milagre

que se desprendeu das entranhas

amanhecendo em flores verdades.


Taciana Valença

 

sábado, 8 de janeiro de 2022

Vigias do alheio ( Ronaldo Rhusso/Taciana Valença)

Vigias do alheio

Oh! Lida tosca, a de gente infeliz

que perde as horas dos dias em frestas

da própria vida ignora as arestas...

Seres sombrios que, sem luz, são tão gris...


Tem própria vida, mas não a que quis

e, na tristeza de ser, perde festas

com as manias ruins, indigestas

Cospem friezas nas falas, gentis?


Vivem das sobras e risos de tolos

sempre querendo a quem nunca lhes quer;

surfam na vida de um outro qualquer...


Sobram  telhados de vidro e dolo

num existir mais mofado que bolo

ruim, esquecido e ninguém mais o quer...




Amigos (Ronaldo Rhusso/TacianaValença)


 

EU MORO NUM VERSO (TACIANA VALENÇA)