terça-feira, 24 de setembro de 2019

FALO OU NÃO?






Falo ou não?

Engulo o choro?

Silencio e calo?

Quem fala é o falo.


Bata! Revide!

Senão te bato!


Onde guardo minha fragilidade, 

meus medos, sem parecer covarde?


Quero gritar para o mundo,

mas calo, amontoando medos

e cobranças onde não falo.


Nos meus cuidados

esqueceram de mim,

e o calo dói em meu caminhar...


O que não falo 

quer apenas amar.


Não me cobrem tanto,

deixem que flua meu lado manso...


Não me elejam

para o que não fui eleito.



Que corram as águas em meu rio,

meu próprio leito...


Cortaram meu leite e deleite

tão cedo exigiram valentia,
vida doentia.


Deixem, enfim,

que amadureça o fruto em mim.


Não importando que esteja tarde,

pois meu corpo pede, a alma arde.


O que falo

não é do macho provedor,

mas do que chora e sente dor.


Falar?

Não falo,

engulo o choro, me calo,

pois assim me ensinaram.


Sua saia me faz sombra

sou bomba prestes a detonar.


Filho, que tu sintas o que não senti.

Que o afeto quebre o vidro do parir.



(Taciana Valença)

terça-feira, 17 de setembro de 2019

VOCÊ



Eram todos tão conhecidos quanto sem graça quando você chegou. Nem esperava por aquele sorriso, mas retribuí, especialmente com o coração. As tintas haviam chegado, enfim, para que eu pudesse pintar a aquarela da vida. A comida não tinha gosto. Deixava metade no prato para sair. E o mundo se fez mais feliz. A rua sorria para mim.

Estávamos juntos, sempre, desde o primeiro olhar.

 Trinta e um alerta! Nos escondíamos no beco, rindo, acocorados. Você colocava a mão na minha boca para que eu não risse tão alto! Aí que dava vontade de rir mesmo. Jogos de queimado, sempre no mesmo lado, protegendo um ao outro. Cuidado!

Amarelinha... você pensa que eu não via quando eu abaixava para pegar a pedra e você, de soslaio, olhava minha calcinha. Bôbo...

Brincadeiras na piscina. Olha o tubarão!

Íamos crescendo com as brincadeiras. Pêra, uva maçã, jogo da verdade. Coração amadurecendo, batendo forte de emoção. Sim ou não? Verdade ou mentira?

Início das festinhas. A primeira música lenta. Sem jeito...

Enquanto os seios se formavam sua voz desafinava, tentando engrossar.

Novas descobertas em nosso mundo. Primeiro beijo...

Ficávamos na beira do mar, depois do frescobol, sentados na areia, olhando o horizonte. Corríamos, de repente, numa aposta. Eu quase sempre chegava primeiro. Mas você jogava melhor do que eu. Uma vez deixei você vencer, só para te ver feliz. Você sacou, eu sei.

Eu clareando os pelos dos braços, você reclamando do cheiro. Eu bronzeada, você, vermelho.
O mar.... Íamos longe, nadando. Eu sempre exagerada. Voltei apavorada naquele dia quando o vi parar. Estava com câimbra. Nossa, morri de medo, achei que ia se afogar. Driblando o medo, chamei para pegar tatuís na areia. Esquecíamos das horas, levando bronca quando chegava para almoçar às quatro da tarde.

Sua primeira prancha, meu orgulho! Sentada, virava o rosto quando caía. Nossa, foram muitos caldos! Mas você ficou bom. Sim, ficou o melhor. Então sempre que chegava na praia procurava entre os surfistas sua prancha amarela. Lá estava você me acenando...

Sinto saudades, você teve que partir. Sem celular nem internet, nossa última comunicação foi a despedida com lágrimas, sem saber quando nem onde nos veríamos novamente.

Foi triste. Virei atleta para contar as braçadas e não pensar em você, parte do meu caminho que jamais vou esquecer.

(Taciana Valença)


quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Minha Nossa Senhora



- Estou saindo, mãe.

- Certo, filho, vai com Nossa Senhora Aparecida.

- Diz outra, mãe, esta já foi com meu irmão.


Maria de Nazaré, nos perigos, dúvidas e angústias, guarda nossos filhos, Santíssima Virgem, guarda a quem amamos, rogando por todos nós, cedendo às nossas cabeças um pouco do teu colo de luz.

Nossa Senhora: "Mostra-te, mãe!"

Devoção mariana,
fé inabalável na mãe de Deus,
na imagem feminina de proteção
que carregamos no coração.


Que seja de Fátima, da Conceição, Aparecida,
será sempre cheia de graça e vida;

De Copacabana, de Lourdes, de Caravaggio,
do Carmo, da Salete, de Akita, da Conceição,
que sempre segure em nossas mãos.

De Medjugorje, desatadora de nós,
rogai pelos nossos dias, rogai por nós.


Ave, María, grátia plena, Dóminus tecum, 
benedícta tu in muliéribus, 
et benedictus fructus ventris tui Jesus. 
Sancta María, Mater Dei, 
ora pro nobis peccatóribus, 
nunc et in hora mortis nostrae. 



Amen


quarta-feira, 11 de setembro de 2019

## ASSIM FOI ##




Já não são caros os lábios que mentiram,
as mãos que entre os pés se meteram,
palavras sem crédito queimam em ferroadas,
verteu enfim a bebida que um dia sorveram.

Joelhos abrasados em confessionário
balbuciam coisas que nem  lembram tanto,
é que nem todos navegam neste mar sem fim
e talvez nunca tenham sido mais, portanto...

Portanto que olhares não mais se cruzem,
deixando que a chuva molhe e seque,
concha sem pérola, ninho sem pássaro,
foi assim, como amor nos pés de um moleque.

(Taciana Valença)


EU MORO NUM VERSO (TACIANA VALENÇA)