sábado, 25 de abril de 2020

Vida, essa farsante









Espreita, discreta.
Pernas cruzadas,
acomodada na cadeira.

Olhar soturno,
observando o rebuliço.
Recatada, invulgar perceber.

Vê desfilar diante de si
todo infortúnio e infâmia
de uma farsante vida.

Episódios em fascículos,
que nem mesmo merecem
encadernação.

É preciso um toque feérico
para que tudo se suporte,
e a felicidade , enfim, aporte.

Na fealdade do que observa,
drena o que há de fétido,
dopa-se, doses diárias.

Colírio alucinógeno
forçando brilho nos olhos, 
e na passarela se vejam borboletas
onde ratos desfilam farsas e ódio.

Taciana Valença

ECO DISTANTE




Bravo silêncio
que a garganta me corta
ao surdo bater da porta

num eco distante
ao me trazer de volta
sopro de instante
ao cais que me aporta.

Taciana Valença

(18 de maio de 2012)

terça-feira, 21 de abril de 2020

FORA DO CALENDÁRIO


Cuspi o poema amargo, mentiroso, desequilibrado.
Folha solta.
Pobre,
raso,
a se debater sem foco ou oxigênio.

Imperfeito, mutilado,
revolvendo-se em pesadelos.
Céu escurecido,
ausente desvelo.

Sonhos rasgados, muda voz.
Nada expressa, nada expressou.
Nem lágrima
nem dissabor.

Tonto, sem sentido ou libido.
Versos sem tesão, coração,
água ou pão.

Piso de cascalho donde a vista não compensa caminhada. Não há nada.
Poema chulo, perdido no calendário.

Modos presos,
teia mediocridade.
Garganta arranhada,
garras covardes.

Num escarro
volte ao chão!
Não há nem mesmo peito
onde uma lança se crave.
Sem salvação.


Taciana Valença
Foto: Taciana Valença

MUNDO MUDANDO

Não mais a voz, mas as vozes.
Não mais a vez, mas às vezes.
Mundo mundano, mundo mudo.
Mundo mudando.

(Taciana Valença)

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DELICADEZA



Tempos mel,
segredos abelhas,
zumbir constante.
Ludibriados direitos à inocência.
Comia ternura, adivinhava abraços.
Pitangas doces vermelhas em explosões inesperadas.
Sombra em água perfumada.
Frágil alma dentro das saias, arrepiando-se em sintomas do coração.
Furtivo tempo d'uma ilusão.
(Taciana Valença)

EU MORO NUM VERSO (TACIANA VALENÇA)