domingo, 26 de dezembro de 2021



 

Salvação


 

Tua madrugada


 

Único verso


 

Sorriso contido


 

Anônima


 

Bloqueio


 


 

Promessa


 

Minha chuva…


 

segunda-feira, 15 de março de 2021

TUA MÚSICA

 





A música chegou.
Levantou meu cabelo,
sentiu gosto,
sentiu cheiro.
Passou as mãos
em meus joelhos.
Até a brisa da praia
ela jogou em mim.
Descarada assim.
Degustei a letra,
em cada vogal
que me coube.
Assim, como chapéu.
Dizem dessas coisas
de carapuça.
Ahhh, como me coube.
Ahhh, como coube
em mim a tua música.
Taciana Valença

ETERNO VAZAR



Sucumbo, medo e fascínio,
porque já é tempo
de não sufocar.
Deito, estado liquefeito,
receio espalhar...
Derramo-me,
pés de cama, terra...
Penetro,
lava incandescente,
adentrando núcleo,
sem respirar.
Busco ponto, origem,
queimando n'um vagar.
Derreto-me por inteiro,
fogo, suor, braseiro...
Não acho canto, nem ponto,
nem mesmo pranto a aquietar.
- Não, aqui não me cabe,
jamais aqui me coube.
Sou um eterno vazar...
Taciana Valença

LIGA NÃO

 

Vou me afogar
nessas trufas,
de licor,
Whisky,
maracujá...
Morrer de rir
desta tua ruga,
só porque saí
para andar na chuva,
só porque deu vontade
de vagar.
Já disse, era um anel,
só um anel de pedra azul,
cor de mar, de céu,
tão dia, tão blue.
Liga não,
o que é um anel
neste carrossel
que me deixa tonta?
Anel blue,
trufas, má companhia,
tuas rugas coloridas.
Tá tudo tão confuso!
Não precisa lembrar,
da mesa mexicana,
da pimenta, mezcal.
Larva intacta, bandana.
Às vezes era verde,
vermelho paixão(o anel),
laranja, talvez.
Seria furta-cor? Tão eu...
Que viagem, hein?
Achou meu anel?
Taciana Valença

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

VAGABUNDO (a um amigo)



Mente sem teto
ou freio de pouso.
Um tanto sem canto,
desviando desencantos.
Mãos nos bolsos
de lenços úmidos.
Calçadas de vida,
eterna viagem.
Viva-mente vagabundo,
de anseios submundo.
Ah, quem me dera,
doutorar-me em teu mundo.
Este desmantelo engajado
a vasculhar o profundo.
Andarilho das letras,
das "cranianas cavernas".
Vagabundo!
A olhar pelas fendas
a sujeira do mundo!
Teu chão de terra reluz
sobre a poeira das togas.
Toque sonolento que
incomoda e nos acorda.
Vagabundo!
Quando vale um passeio
neste teu mundo?

 

Taciana Valença

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

TUDO CERTO



 

Por que saber das horas
Se as palavras eram as certas
Se os olhos contemplavam
Quietos, fixos, sem fim
Se tudo ali estava repleto de mim

Por que saber das horas
Quando nada importa mais
Além d'um momento que se eterniza

E está tudo certo,
Até mesmo a chuva
Molhando as asas dos pássaros,
Até mesmo o latido intermitente
De um cão carente

E está tudo certo,
Se tudo estava ali
Naquele momento
E era tudo o que importava

SEXTA VAZIA




Silenciosas, as ruas estranham as faltas.
Faltam pés saltitantes, orquestras, maestros.
Falta Antonio Nóbrega, o Bloco das Flores.
Faltam os foliões e suas cores.
Recife estranha as ruas vazias,
máscaras isoladas em si,
indo alhures num vácuo tempo,
respirando como argumento.
O galo não está na ponte,
e a gente nem pode mangar,
como sempre, nossa maneira
de admirar, só um pé de graça.
Mas o orgulho ninguém disfarça,
do bloco que amanhã seria.
Quem sabe um dia. Quem diria?
-Depois do Galo rola Olinda?
Mas claro!
E amanhã a gente sofre,
mas não vai poder gozar.
Nossas cinzas antecipadas,
tiraram o homem de lá.
O homem do boné,
homem azul, inesquecível,
aquele, dos livros, o dirigível.
Sábado de Zé sem Pereira.
Tudo passará em branco ou luto.
Começamos das cinzas ingratas,
o Carnaval de todos os anos,
só que hoje nossa fantasia
é tapar o rosto com pano.

Taciana Valença

ÁGUAS DE MIM

 



São tantas águas de mim
escorrendo em enxurrada.
Inundando becos secos,
descansando paradas.
Lago límpido, transparente,
pântano frio, surpreendente.
Transbordo destino mar,
boca maresia, vento frio,
d,águas tão quentes...
Mar calmo
sem rebentação,
não aconselho mergulhar.
Mar sem rebentação
não é seguro, juro.
Silenciosas são
as correntes...
Águas calmas
arrastam para alto mar,
não adianta nadar.
Neste mar sem limites,
aconselho não entrar.
Taciana Valença

VERSOS ALADOS


Faz tempo
solteI os versos,
dei asas ao voar.
Alados foram pousar,
cada um em seu telhado,
cada um no seu lugar.
Satisfeitos em cada endereço,
versos tontos, sem brio, rarefeitos.
Já não tem meu apreço.

Taciana Valença


Foto: Taciana Valença

AO NOVO DIA



Pela fresta da janela

entrara uma nesga de tristeza.
Esquisita sensação de trem perdido,
do abandono em fria estação.
O cachorro a desviar os olhos,
num absurdo entendimento sem palavras.
A vida partida em fatias,
poderia até jogar-lhe algumas.
Quem sabe se refastelasse
mordendo como ossos.
Estremecera com a ideia
deixando a gelatina derreter na boca.
Seria a lua azul e seus efeitos?
Ria e gritava: esse mundo irá nos matar!
O cão pulara no colo em alegria.
Abriu a champanhe ao novo dia.
(Taciana Valença)

QUINTO POEMA

 


Quem dera jamais ter visto,

jamais ter lido,
nem mesmo verso primeiro.
Maldito quinto poema,
célula tronco dum morrer.
Gafanhotos em praga plantação,
não é sequer um senão.

Punhaladas.
Maldição!
Versos lâminas,
tiro no peito.
Maldito quinto poema,
insônia no leito.
Mergulho na lama
onde impuro se sai,
inseguro e triste,
quase incapaz.
Quem dera jamais desencantar,
bailarina movida por emoção.
Lágrima, espetáculo,
dor, perfeição.
Entre remédio e veneno,
segundos ilusão.
Sorrateiro, silencioso,
que aos olhos espetam
e ardem.
Borrada pintura
em ato criminoso
de efeito azedo.
Maldito quinto poema,
roeu ripas, virou tripas,
matou vidas.
Taciana Valença

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

IMAGEM - Taciana Valença (prod igor lemos)

TACIANA VALENÇA POEMAS

PSIU

                                                                  





                                                                   Passe depressa,

passe discreta,
sem ruídos.

Não chame a atenção.
Há um poeta de plantão,
a rondar lua e sombras.

Congela tuas artérias,
prende a respiração.
Há um poeta de plantão.

Quer ser mar, rio, talismã.
Insiste em ser divã.
Não tombe, ele quer teu braço.

Não te enterres na madrugada. 
Atrás da Rocha, nem pensar!
Sentará ao teu lado num piscar.

Fique estática, nem respire.
Use pés de bailarina...
Flutue no crepúsculo.

Contenha as pupilas,
se faça de argila,
feia emudecida.

Entre o bigode e o queixo,
há uma boca entreaberta
e fumaça de cigarro.

Ronda-te os segredos,
os medos e versos,
e poderá te vencer
com um café expresso.

DISTRAÇÃO

 



Na cabeceira, o jarrinho, esqueci de colocar no solzinho da janela. 

É que gosto das minhas coisinhas me cercando, e hoje eu estava distraída, tão distraída que esqueci do tempo, da data, da hora, de tudo.

Acho que as horas servem para por ordem no tempo, esse tempo que inventaram para nos controlar.

Hora de tomar café, hora de almoçar, hora de jantar, hora de trabalhar.
Antes de tudo existem três ponteiros controlando nossa mente.

Estou só pensando... pensando em como foi boa a viagem sem tempo que fizemos, onde o relógio da cidade apenas seguia o sol e a lua.
Marcava manhã, tarde e noite. Eu achei o máximo aquilo.

Acordávamos tarde, de uma noite de tantos braços, lábios e risos.
E o dia começava às dez da manhã. Lembra? Café, biquine, praia, sol. Andarilhos sem relógio. Não havia celular e meu tempo era todo teu. As únicas mensagens que recebíamos eram dos nossos corpos, nossos gestos em resposta a tudo o que vivenciávamos. Comentávamos o gosto das coisas, você me mostrava as janelas coloridas que eu curtia, entrávamos em cinema com roupa de praia e tomávamos café quando saíamos.

Ninguém sabia onde estávamos. Não precisávamos mostrar o que fazíamos para a humanidade saber que éramos felizes.  Apenas vivíamos nossa felicidade.

Hoje viajei pensando nisso. Ando assim, tão distraída dessa vida...

EFEITO




 Tempestade em campo vasto, 

este olhar de falsa reprovação.
Incontido toque de imensa satisfação.

Um quê de ver
e não acreditar.

O efeito sobe em mim,
que não me contenho
em te provocar.

ECLIPSE




Tempo se fecha sem prévio aviso. Aliás, algo assim, meio em cima da hora. Nem mesmo deu tempo para pensar, refletir, treinar. Com qual roupa não vou sair?   Há algo solto no ar, invisível, perigoso, fatal! Sem mesmo nos darmos conta, sentimos frio na barriga, recapitulamos nossas vidas. Uma oportunidade para um raio-x da alma.

E se eu morrer amanhã? O que fiz, o que não fiz? Quais foram meus pecados? Como ficarão todos? Nossa, acho que jamais sentimos um perigo tão próximo.
À medida que o tempo vai passando, o vírus vai chegando perto, vai se mostrando, amedrontando, levando amigos, conhecidos, familiares. Um vulto, uma sombra negra abrindo as asas sobre nossas cabeças.

Então, de repente, estamos na janela, pedindo ao Universo uma cura, pedindo proteção para todos, clamando perdão por nós e pelo próximo. Uma reza, uma oração, um pedido sem religião. Sim, é nessa hora que buscamos a luz. Que a luz ilumine nossos dias, nossa saúde, nossa família. Enfim, que se houver um Deus, ele nos socorra.
Cadê Deus? Cadê Deus? E ele bem aqui, dentro de nós.

Temos a posse do interruptor que gradua a intensidade de luz que emanamos. Sim! Surge uma força, além de uma vontade de entender o que se passa. Imagino a graduação da luz. Seria lenha na fogueira. Lenha da boa, da que faz a labareda surgir, afastando qualquer escuridão.


Lenha do amor, da compaixão, do perdão, da humildade, da empatia e absolvição das nossas culpas. E a claridade vem à medida que jogamos lenha boa no fogo.

Esse é o interruptor que gradua a chama.

Descobrimos que toda a lenha estava guardada dentro de nós. Quem não descobriu isso antes, tem a chance de descobrir o esconderijo, de desvendar o segredo.

E agora? E a madeira que ficou úmida durante todo esse tempo? Como utilizar para jogar na fogueira da vida?
Vocês sabem que o segredo para secar é o calor. Neste caso, um calor bem específico:

 calor humano.
 
Ele não falha. Todos nos vemos precisando dele, e o mundo, mais do que nunca, sofre com as consequências desta escassez, quase uma falta.

E o Universo aponta a nossa chance de nos envolvermos uns com os outros. Mas só um detalhe: o calor tem que ser verdadeiro. Nada de falsa caridade, de falso ajudar, do ajudar para se envaidecer. Não! A chama só cresce com sentimentos verdadeiros. Se o calor não vier da alma, nem tente, o fogo não vai pegar.

Não é difícil pensar que nascemos com essa lenha boa para jogarmos na fogueira da vida, a lenha que trabalhará a nosso favor e, consequentemente, a favor da humanidade.

Mas sabe o que acontece? A gente se distrai com as tentações e ilusões do mundo, e ao invés de melhorarmos nossa condição de humano, acabamos iludidos com as vaidades, distraídos em fazer valer as vontades fúteis dos nossos umbigos. Preocupados em competir com o outro ao invés de se unir em prol de algo maior.
E a lenha? Sem cuidados, a gente deixa ali, largada ao chão, pegando umidade, e assim, perdendo sua função. Ela fica lá, quieta, e o mundo vai nos pegando de jeito.

O Universo vem com tudo e nos balança!

Êpa! Vamos prestar atenção no serviço?

Que humanidade é essa? O que é isso?

Coloca todo mundo trancado. Tipo numa cadeira de pensar. Os sensíveis percebem mais rápido toda a questão. Outros demorarão a entender, presos ainda nas vaidades vãs e egoísmo. Outros, não mudarão em nada, continuarão presos nas correntes grossas do obscurantismo.
 
Taciana Valença

 

EU MORO NUM VERSO (TACIANA VALENÇA)