sábado, 30 de dezembro de 2017

VIRADA DO ANO





A barra do vestido indiano que recebera na véspera estava toda molhada. Na verdade ele deveria ter suspeitado que isso iria acontecer, mas achou aquele longuinho amassado de alças a sua cara.

Olhava de longe enquanto ela brincava com as ondas que lambiam seus pés. Com um sorriso largo correu para seus braços, rindo da bermuda branca dobrada sobre o joelho.

Carinhosamente a colocou no colo, deitando-a sobre a areia. A praia estava praticamente deserta, a festa de final de ano na casa do melhor amigo estava perfeita. Casa de praia longe da cidade, só amigos íntimos e a mulher da sua vida. O que mais poderia querer?

Os beijos longos, o vento, as risadas e uma paradinha para conversa séria: o futuro deles, juntos, e o mais breve possível. Não aguentaria viver assim por mais tempo.

Os olhos lacrimejavam quando uma mão o tocou nos ombros. Era a esposa trazendo-o de volta.
- O que houve?

- Nada, deve ser a época, sempre me emociona.

Ela sabia disso. Desde que casara que a noite de Reveillon era assim. Ele um pouco ausente, parecendo longe. No fundo ela sabia o porquê.

Eram noites tristes, marcadas por uma dor que nunca passou, o adeus da mulher que mais amou na vida e junto com ela o futuro perfeito, os sonhos e o lar que planejaram e no qual jamais puseram os pés.

(Taciana Valença)


## 2018 ##



Mantra para 2018:

Menos poesia e mais realidade,
menos romantismo,
menos sonhos,
mais objetividade.

Menos correntes,
mais liberdade!

Taciana Valença

domingo, 10 de dezembro de 2017

XEQUE-MATE



Tarde de chá,
mate ou morra.
Fim da masmorra.
Pôr em xeque.
Fuja, cubra,
não ultrapasse, capture.
Coroa imponente, meu rei,
mas sou rainha,
dona do movimento.
Livre-se do ataque,
sessenta e quatro casas
e meu nascimento,
tenho tempo.
Sem afogamento nem empate.
Xeque-mate!


segunda-feira, 27 de novembro de 2017

PARTINDO



Aos poucos as mãos se soltaram. Os dedos que ainda resistiam, segurando pelas pontas suadas já não davam conta. Era hora de ir, pensou. Seguir estrada, sem olhar para trás. 
As costas das mãos molhadas tentavam em vão enxugar as lágrimas que embaçavam o caminho. Lembrou do amor, do carinho, das preocupações, da amizade. Tudo jogado para debaixo do tapete, feito história em quadrinhos que termina num grande FIM.
Ainda parecia sentir o cheiro do café que nem mesmo chegou a tomar e  da rosa fresca que enfeitava a garrafa azul em cima da mesa na hora do jantar, dando um clima romântico e rústico.  Nenhum aceno, nenhuma emoção.
Por certo o jardim sentirá sua falta. Os lençóis da cama perderão seu cheiro, dando espaço a cheiros mais intensos. 
Não teve coragem de se virar e olhar. Esperou dobrar a BR para não correr risco de querer voltar e dizer que era tudo um grande engano. Mas não, não faria isso, não outra vez. Não era engano. Nada era igual e ela sabia que tinha algo errado. Cansou de ser jarro, pedra ou tapete. Cansou de compor o ambiente e por certo ele cansara do objeto. Deixou cair algumas folhas, marcando o caminho. Mas o vento forte levou, talvez junto com seu coração. Estava solta, leve, triste, vazia.



sexta-feira, 17 de novembro de 2017

MANDACARU



Verde Mandacaru, 
braços pra cima
rendem-se ao sol 
em pano azul.

Verde mandacaru,
mãos ao alto!
Pois vim do asfalto
em busca de tu.

Verde mandacaru,
forte e resistente,
força presente num povo
que não se faz descrente.

Mandacaru cultura,
exemplo de bravura,
segue acreditando,
enquanto sol brilhando.

Nuvens se formam 
num regar esperado
dá um conforto arretado
mas a chuva não vem.

E enquanto não chega
a gente peleja
mas os pontos não entrega
a seu ninguém!

(Taciana Valença)


domingo, 12 de novembro de 2017

## A ROSA QUE CARREGO ##




Hoje trago pra você a rosa
que habita em mim
e que carrego no peito,
que dorme e acorda em meu leito.

Trago para você a rosa
que colhi menina
apenas pelo vermelho
que me fascina.
Trago a rosa que recebi
na primeira menstruação,
era uma boba
com uma rosa na mão.
Trago pra você a rosa
que enfeitou a mesa
nos meus 15 anos,
entre encantos e sonhos juvenis.
Trago a rosa que decorou
o altar no meu casamento,
com todos os encantos
do momento.
Trago as rosas dos dois ramalhetes
que recebi quando amamentei meus filhos,
d'um amor indefinido e sem limites
de único brilho.
Trago também a rosa triste,
que não joguei no túmulo do meu pai
achando que assim o traria de volta.
Mas nunca mais vi seu sorriso.
Trago a rosa da indignação
pelo sofrimento da humanidade,
pelas crueldades e pela dor
da nossa incapacidade.
Mas trago enfim, a rosa
que daria a cada fiel amigo,
esses grandes abrigos,
na caminhada pela vida.
(Taciana Valença)

terça-feira, 7 de novembro de 2017

## VITRIFICADA ##



Intensamente rubra,
ardente,
sob luz emprestada do sol.

Paiol de versos,
cacos
largados nos confins.

Frios olhos,
feito de noite emprestada.
Poema sem passagem,

sem passe,
sem parceiro.
Nenhuma faísca.

Apenas murmúrio
d'm verso perdido.
Pedra poesia. Vitrificada.


domingo, 5 de novembro de 2017

QUEBRA DE REPERTÓRIO



Horas intermitentes se seguiram num dia arrastado. Tentou ler um livro, cozinhar, tirar um pouco o pó dos móveis, pois os preferia empoeirados a ter alguém limpando e bisbilhotando sua casa; tirando-lhe a privacidade. Estava se tornando um chato, era verdade, de chatices assumidas. Tirou enfim a roupa que usaria logo mais à noite. 

Perto das dezessete horas já estava devidamente arrumado. O show começava às vinte, mas era um desses dias em que não se aguentava em si. Pegou o sax, ensaiou um pouco as músicas que normalmente tocavam, acrescentando as variações do último ensaio pois, sendo o público muito fiel, era questão de respeito levar sempre algo novo. Eram, na verdade, a principal atração do local.

Perto das dezoito horas chamou o carro que sempre o levava. Gostava de pontualidade e às vezes exagerava chegando muito cedo para ir mergulhando no clima. Seu coração, feito de Blues, pedia sempre calma e tempo. O tempo jovem das coisas de última hora havia acabado para ele há muitos anos. Limpou a aliança de prata na mão direita, um falso compromisso assumido com ninguém apenas para afastar as tietes que vez por outra queriam cair em seus braços. 

Às vezes queria ser menos chamativo, mas era exatamente o tipo que as mulheres gostavam.
E não adiantava deixar a barba por fazer, usar óculos escuros escondendo os olhos cor de mel ou mesmo andar apenas de jeans, camiseta e chinelo. Tudo funcionava ao contrário.
Um episódio certa vez o deixou bastante constrangido. Mary Anne, cantora convidada pela banda, sabendo do hábito dele de chegar sempre mais cedo, chegou também antes da hora, promovendo um encontro não combinado. Pediu que tocasse para ensaiar uma música e, quando ele viu, estava dançando sensualmente. Foi muito constrangedor.

Apesar de bonita, não achou menor sentido no que fez, forçando-o a uma atitude que ele, sinceramente, não estava a fim. Ficou sem graça, continuou tocando enquanto ela quase se despia. Ao final, achando-se obrigado a fazer ou dizer alguma coisa, apenas disse: você dança muito bem. Isso custou-lhe a amizade dela, que se ressentiu indignada e fez com que ele não a convidasse mais, apesar da excelente voz. Coisas assim pareciam só acontecer com ele. Sempre discreto, nunca contou a ninguém sobre o ocorrido.

Sua timidez apenas se destacava ao lado dos homens que, por não terem o que dizer, bebiam, faziam graça e davam cantadas vazias. Por isso se tornou caseiro, fiel às boas leituras e músicas, não deixando de lado seu cuidado com o corpo, não para exibir-se, mas por achar importante cuidar da saúde e manter músculos fortes para uma velhice menos problemática.
Como se habituou a morar só, ter saúde o ajudaria.

Depois de desistir da carreira frustrada de engenheiro, a qual dedicou anos de estudo na juventude e vida adulta, resolveu seguir o coração e dedicar-se à música. O sax acompanhara uma grande decepção amorosa mas deu ao seu sopro de saxofonista um ar único e respeitado no cenário musical da cidade.

Enfim, casa lotada, o quarteto, de uma elegância ímpar, começou a apresentação pontualmente e a plateia correspondia com respeito, silenciando durante toda a apresentação. Os burburinhos ficavam para os intervalos.

Na segunda parte da apresentação (normalmente eram tres), um fato inédito na casa. Um homem se levantou esbravejando, xingando e seguindo para perto do palco. Ninguém entendeu nada. Quando caiu em si percebeu que era com ele que falava. Dizia absurdos achando, pelo jeito, que ele estava olhando para sua esposa. Como? Se mal conseguia ver os rostos de ninguém?
A confusão se formou, a banda parou e os amigos tentavam segurar o sujeito, que parecia já ter bebido além da conta. Chamaram enfim os seguranças, que o colocaram para fora tentando uma discrição inútIl.

Por sua vez, procurando ser mais discreto ainda, desceu do palco. Ao passar entre as mesas, procurando os amigos para entender o ocorrido, percebeu que duas mulheres tentavam acalmar uma outra, sentada à mesa, soluçando e visivelmente envergonhada.
Ao chegar mais perto seu coração acelerou. Reconheceria aqueles olhos nem que se passassem mil anos. A maior paixão da sua vida, a maior alegria e a maior tristeza que um homem poderia experimentar.

Trocaram olhares que por um momento pareceu uma eternidade. Sem graça, desviou o olhar e seguiu para fora do bar.

Estava tudo explicado. Só não entendia como alguém tão meiga e doce poderia estar ao lado de um homem daqueles.

Ela, tanto quanto os amigos que estavam na mesma mesa se foram. A apresentação continuou num clima sofrido.

No caminho para casa um turbilhão de sentimentos, recordações e saudades.
Por que?

Tirou a roupa, jogou gelo no copo e bebeu. Uma lágrima escorreu, sem choro.
Seu chão se abriu.

(Taciana Valença)

terça-feira, 17 de outubro de 2017

PLANTAÇÃO




Plantei Jandaias
Nasceram Bem-te-vis
Debaixo de tempestades,
Assoviando saudades
Num campo de Colibris.

(Taciana Valença)

BOCA DE MEL




Pontas dos dedos a desenhar sobre
o coração empoeirado,
Tosco, sem fagulhas alegrias,
Apenas noites em dias,
Caminhando a passos lentos,
Dormindo ao relento...
Sob sol e chuva,
Gosto de clorofila
Na boca amarga e seca,
Cinzentos dedos se recusam
A mergulhar em boca de mel,
Num regozijo fresco
Disposto à gosto
Em bandeja de vida

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

TALISMÃ

Se colar no céu da tua boca
Certamente não serei só palavras.
Serei sabor, saliva, hálito, viço.
Ponta da língua acariciando dorso,
Quente conhaque ou cheirando a café,
Não saberia dos dias frios. Só poesia.
Agora, recolhida em tua boca,
Pasta cheirando a hortelã,
Acordando suave no bocejar do dia,
Talismã.

(Taciana Valença)

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

SINA


Se ele, nascido Pessoa,
Nunca será nada,
Compactuo apenas os sonhos
Entre verões e invernadas.
Incógnita, tal ele, 
Entre tantas janelas do mundo.
Catando as estrelas que restam em meu céu,
Comungando dias sem escarcéu,
Deixando rastros na areia
Dos caminhos meus,
Eu, que já nem sei nada, 
Com certezas encostadas ao pé do violão,
Sigo letra de velha canção...
Sim, sou antiquada, sempre um pé atrás,
Morando num tempo que não me cabe,
Rasgando os véus d'uma saudade -
Onde li poemas escondidos,
Escritos às pressas sob a pena
Das mãos suadas, escorregadias,
Como amores que nem mais são,
Entulhando o vão que não se preenche,
Feito rio que transborda enchentes
A rolar pedras que se despedaçam,
Sou coração em pó desfeito,
Enche, seca, morre no leito

(Taciana Valença)

sábado, 16 de setembro de 2017

## DOS VENTOS ##


Ventos de agosto que reverberam,
Entrando impávidos setembro adentro,
Leva e trás de emoções,
Varrendo, arrancando, levando...
Bons e maus ventos,
Sobre o justo e injusto -
Míseros seres humanos expostos
Aos agostos e gostos do tempo,
Vento a modelar paisagens,
Insinuar miragens...
Importante varredura do ar viciado,
Entre monções, brisas e ciclones -
Cheios de nomes e gostos particulares,
Causando enchentes, agitando mares,
Mudando enfim a maré!


(Taciana Valença)

terça-feira, 5 de setembro de 2017

## ACIDENTE ##



Na curva da estrada um tombo. Todo o carregamento espalhado pelo caminho. Eram só poesias. Apenas poesias. Certo, estava lotado, abarrotado de sentimentos, deve ter sido o peso, o peso dos versos entonelados. Estavam agora largadas no asfalto. Algumas voaram morro abaixo, outras subiram aos céus. Foram tantos grudados na pista molhada! 

Um acidente apenas, um trágico acidente numa BR. Mas o pombo ciscou e sapateou em cima de um deles, achando pouco deixou marcado seu excremento esverdeado. Nossa, isso é que é zombrar de sentimentos. Uma delas, talvez a mais leve e romântica estava presa a um galho. Lembro bem dela porque havia um coração mal desenhado à mão.

As demais seguiram caminhos diversos pelo céu aberto. A menina que no parque chorava sentiu algo cair em suas mãos, seriam palavras vindas do infinito? Mas enfim as palavras tornaram seus sonhos mais bonitos. Ao mesmo tempo um casal sentado num banco, que brigavam sem nem mesmo saber o porquê acabou lendo juntos a mensagem do além e sem demora eram um só bem.

Tantas foram as mensagens que agora de nada me serviam. 
Eram mesmo destinadas ao vendo, ao acaso, ao relento…

Agora me despeço dos versos, esses bipolares amigos das horas. Nem sequer mais um deixarei escrito em vagas memórias.

(Taciana Valença)

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

A SÓS ENTRE ELES


Senti seus passos, ansiosos, enladeirados...
Soltos sentimentos entre o céu e a Terra,
E quem dera bater as asas, por entre as flores
O colorido que fascina, trazer alguém de volta
Sentar no pico da montanha;
Entre os pais, do céu e da Terra...
Rir do passado,
Passar a vida a limpo,
Saber o que querem, 
Logo eles, que de tanto estarem,
Sente ausência
Contraditório olhar essa imensidão
E sentir esse vão que nada preenche,
Nem seus passos ao infinito,
Nem o pássaro mais bonito...
Sim, agora toma seu café,
Ele é real


(Taciana Valença)

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

ENTREGA


Lá de baixo vi apenas a luz, penetrando entre as rochas.
Estava terrivelmente só, numa felicidade sem nome.
Pés descalços, jeans molhados, grudados no corpo. 
Cara e alma lavadas, pele arrepiada envolvendo o quente coração.
A chuva sim, sempre foi tudo, sempre foi plena, despojada, despejada sobre qualquer um; e me ofereci a ela na ânsia de que escorresse, confundindo-se com as lágrimas.
Ela escorria e me sorvia;
Eu lhe sorria...
(Taciana Valença)

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

FIM DA CONTENDA (Taciana Valença)





Aos meus olhos, envolto em halo tu surgias,
E era como tocar a felicidade e guardá-la em canto meu,
Mais doce saudade, luz do meu breu,
Que de tanta espera, por horas nada mais havia

Quieta como menina a esperar dobrar a esquina,
Foi o experimento mais doce e longo
A ansiedade, a voz, o encontro,
O íntimo pacto, o oxigênio do que fascina

Riso cansado, mas firme e feliz,
Minha paga, minha praia, minha praga,
Que enfim nada mais me traga

Não mais batente, nem pracinha,
Riso que nem mais sustenta em causa minha,
Fim da contenda, guardo a meiguice, demovo o coração

(Taciana Valença)







terça-feira, 8 de agosto de 2017

NÃO DESTINO, DESATINO

Não destino, desatino
Lira única a sacudir o colchão,
U que se encaixa na cabeça,
Santo travestido de besta,
Luta entre o sim e o não,
Calos canaviais,
Algum santo que por mim reza,
Freando a fresa, e a cabeça gira,
Mato doido, cannabiais...
Hóstia que em mim padece,
Engolida a seco,
Vagando pelos becos
Para jamais chegar na casa
Ó pratos sujos do pó de uma era,
Rumando a um não destino,
Resto de vida, desatino...
E eu aqui. Pra quê?

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

ACALENTANDO PENSAMENTOS


Pensei que já havia pensado além da conta
Quando me dei conta de que em nada ainda pensei,
O pensamento vai, faz a curva, pego de volta,
Num quê de revolta me aposso,
Deixo ficar, passar o veraneio;
Vai que precisa de sol!
Mas vento chega tão frio,
Veludo coração em breves arrepios,
Expulso das colchas e das coxas,
Num expurgar d'impulso;
Solto o pulso,
Esbravejo, julgo de espúrio -
Volta e meia, andar silente,
Guardo, escondo, acalento,
docemente...


(Taciana Valença)

PLENO AMANHECER


Ontem num rompante fechei portas;
Na madrugada de mim me desfiz
Rubra em flor de liz,
Acordei, não estava morta!

Distraída deixei janelas abertas,
Um chá, numa noite insone,
Num aconchego sem nome,
Ao despertar percebi rosas pelas frestas,
Sou terra fértil, arada
Semente boa deve ser cuidada,
Nasce então o pomar do desejo
Suspiros, pele, toques,
Um quê de me provoque -
Tão plena em plena luz do dia!

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

ALÉM DAS ESQUINAS


Talvez haja um saldo
Algo que valha a pena saldar,
Ultrapassado sobretudo amar?
No carregar de tanto fardo?


É preciso nos quereres renascer,
Pois imenso é o mar que nos abriga,
Ainda temos tanta vida!
Por que não outro querer?

O canto dos pássaros não assusta,
Nem mesmo do horizonte a linha,
Não seja teimosa alma minha

Acenda as luzes
Olhe dos quartos as quinas,
Vá além das esquinas!

(Taciana Valença)

CALOS DA VIDA





Desde que debulhar a vi
Entre sujas mãos,
Jogando cada grão
Como a parir –

Parindo a comida,
Entre suores e lágrimas,
Escrevendo suas páginas
Riscadas e sofridas

Eu boba, apertado coração
Calada olhava sua sina,
E era tão menina;
Em choro de emoção

Meu mundo era  um sim,
O dela um não parecia,
Calos em água de bacia;
Sempre sofria assim…

(Taciana Valença)





EU MORO NUM VERSO (TACIANA VALENÇA)