sábado, 30 de abril de 2022

Cuidados






Nos meus cuidados, muitas vezes não sei o que fazer com as pessoas. Confesso que não me importo quase nada com coisas, mas pessoas para mim tem um valor inestimável. 

           Cuidar de coisas é tão fácil. Limpa, guarda, doa, joga fora, compra outro quando se estraga, às vezes a gente conserta, se der, e se for de alguma importância. Eu só dou muito valor às coisas quando elas me trazem recordações de pessoas ou são dadas por pessoas que estimo. Aí sim, elas passam a ter realmente um valor pra mim.

          Só que cuidar de pessoas é tão difícil. São tantas particularidades, peculiaridades, tantos “se” a serem pesados e medidos. Às vezes a gente acha que conhece alguém e se encanta com a imagem que criamos. Só que a imagem que criamos se baseia em nós mesmos, em nosso modo de ser, de agir e de entender o mundo. E é aí que a gente se machuca muitas vezes, se decepciona, se entristece e até tira pessoas das nossas vidas. 

          Mas as pessoas que ficam, as que a minha admiração deita e acorda com elas, ahhhhh, essas são as que fazem a diferença na minha vida. Essas são as que fazem valer meus dias, mesmo que não as conheça tão profundamente nas suas reações, assim como também não conheço profundamente nem as minhas, e me surpreendo comigo mesma tantas vezes.

          Que se quebrem vidros, taças, carros. Que jamais eu tenha algumas coisas que tantos cobiçam ou se matam para comprar. Não me importo. Mas um amigo ferido, trincado, quebrado, isso sim, me deixa triste. Assim como um semelhante que sofre por não ter o básico para viver de forma digna. Não importa se não conheço a cada um, mas me fere, como afiada lâmina perfurando o peito. 

          Ahhhh, como me dói o sofrer da humanidade!


Taciana Valença

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EU MORO NUM VERSO (TACIANA VALENÇA)