terça-feira, 8 de fevereiro de 2022
Boca
que engole, rumina e mastiga,
mesmo entre gemidos,
mesmo com voz rouca,
quem come é quem tem boca.
E eu sei do que falo.
Taciana Valença
domingo, 6 de fevereiro de 2022
Meu poema
Meu poema
não tem soberba
nem requinte.
Só vai a lugares
que não precise
de convite.
Senta,
pede uma bebida qualquer,
fala com todo mundo.
Depois fica só,
mexendo o gelo
do copo e pensando
na besteira que é viver.
Taciana Valença
sábado, 5 de fevereiro de 2022
## INQUIETAÇÃO ##
É no vazio que a alma se espalha,
se contorce, se alonga, se aconchega, se encolhe.
Deixa-se não ser nada, sacode a toalha,
na inquietação de não se saber.
O que, exatamente, está acontecendo?
Quem tece esse emaranhado de fios
que nos cerca e nos prende?
E o olhar arde, a gente cansa
de ver, de entender o rebuliço
que permeia entre o vão do riso e choro.
Um fantasma assusta a alegria:
Boooooo! A gente acorda fria,
procurando o engodo que nos cobria.
Depostos dos falsos postos.
Piedade é apenas palavra solta,
num dicionário qualquer ou nas leis ditas de Deus.
O perdão fica por conta de Mateus,
porque aqui a coisa é diferente,
os sentimentos são frios, quase não se sente.
Aqui se mata gente, por preconceito,
por ser um pouco diferente do que
os hipócritas chamam de normais.
Há um ódio regado pelo medo de não ser.
Não se vê leveza nem nas pessoas que
um dia achamos conhecer.
Que mal é este
dos habitantes deste mundo?
Diga-me você.
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022
Tempo
Aparo a destreza do tempo,
cortando-lhe os galhos para que se abram em verdes, fartos e novos caminhos. Viver exige a paciência e sensibilidade de um jardineiro.
Vendaval
Vendaval
Raras contemplações.
Tênue linha a separar
brisa de vendaval.
Antes distante céu.
Sim, aquele azul
onde não se pisa,
que não se alcança,
mas de admirável brilho.
Ousadia guardada
sob véus dilemas.
Melhor não saber,
não entrar, não bater.
Mas eis que chega,
vozes e linhas que se doam
ao encantamento,
já não há vento, só vendaval.
Algo não se estabelece,
apenas cresce,
sem nem mesmo ter
onde se segurar.
Deixa-se ir, ornada
em canções perfumadas,
onde a alma se enverga
a beijar outra alma.
Só rascunho…
Sigo a vida
displicente
e ela me segue,
sigo o insta
gravemente
e a vida segue
com rompantes
meus instantes.
Sigo o dia, sigo a lua,
que flutua,
que me encolhe
e me acolhe
quando cresce,
mas me imponho,
sigo um sonho
que padece,
aquieto-me numa prece.
Sigo o único poeta
que das letras
faz a festa
e me afeta,
sou Sininho,
sou caminho
sem as setas.
Ronaldo Rhusso / Taciana Valença
Foto: Taciana Valença