TACIANA VALENÇA - Ensaiando poesias

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segunda-feira, 28 de novembro de 2016

ANISTIANDO O CORAÇÃO


Há momentos em que precisamos anistiar o coração. Seguir um pouco sem ele. Esse bobo que me carrega pelas mãos, faz sentir pena, saudade, vontade de ver as pessoas felizes. Chega! Uma trégua para que eu possa me mover um pouco sem essa alma, bondosa demais para sobreviver a um mundo onde os sentimentos ficam em segundo plano. Que coisa! Será que ela não aprende que a vida é prática? Que ninguém tá nem aí para sua sensibilidade, para seus olhos piedosos? 

Basta, um pouco de prateleira para que eu me acostume que a vida é mais funcional se não formos tão sensíveis. Talvez um dia, dois, sei lá. Esquecer um pouco que ele existe e seguir vazia, como tantas pessoas que sorriem vagamente, que amam convenientemente e trabalham exaustivamente para mostrarem uma felicidade que não possuem. Mas também não sofrem, pois nem sentem que são esses ocos de vida.

É isso aí, só por hoje, como um viciado  diria, só por hoje, fica ali, guardado em cima da prateleira. Vou produzir mais assim, afinal, tá todo mundo assim. Adaptar-me a isso é uma questão de sobrevivência.

(Taciana Valença)


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Chicletes sem sabor – Taciana Valença


Então ele havia ficado no tempo das vésperas? Véspera, vésperas. Palavra nova em nosso vocabulário, tínhamos acabado de pesquisar. Era mania. No mesmo dia chegou com subilatório, rindo-se muito dizendo ser cria de um grande escritor para por no lugar daquela palavrinha que Magali tanto admirava e que resultava em grandes palmadas quando deixava escapulir. Contente disse que agora era substituir, no que ela rebateu, de jeito nenhum. Era isso? Nosso amigo existiu até as vésperas de hoje? 

Ainda ontem em coro brincávamos pega ladrão, pega ladrão e às gargalhadas víamos subir as calças espantado, agachado no mato, vítima de um desarranjo, segundo sua mãe, dona Hilda, da vendinha onde comprávamos escondidos os chicletes proibidos. Incrédulos metemos as canelas rua abaixo até a venda onde num quadro negro havia escrito a giz: fechado. A venda não fecha durante a semana. Teria sido o desarranjo? Alguém de vocês já ouviu falar em morrer de dor de barriga? A coisa parecia séria. Não poderia ser boato. 

Da janela minha mãe observava nossa reunião. Pelo olhar ela já sabia, conheço o olhar da minha mãe, ela não sabe disfarçar tristezas, é péssima para isso. Uma manteiga derretida. Era verdade. Aos poucos fomos deixando o riso aguado de lado e escondendo os dentes. Nas bochechas de Ana lágrimas escorregavam descontroladas e em poucos instantes contaminaram a todos. Ficamos ali pensando nas vésperas, nos ontens. Como alguém aos 11 anos pode simplesmente sair assim da turma, sumir? 

Estava tão feliz, havia entrado no novo colégio com a ajuda da tia que prometera pagar as mensalidades mediante as notas do ano. Sem dúvida se esforçou. Quase não o víamos durante a semana, a não ser rapidamente, chegando ou saindo para a aula. Cada qual no seu canto recordava o amigo. Certa vez ouvi meu pai dizer que a morte não mandava recado. Nem mesmo tivemos tempo de despedidas, dizer do quanto gostávamos dele e torcíamos pela sua felicidade. A casinha sacrificada, os pais já tão idosos nunca puderam dar-lhe mais. Não ligava, estava disposto a ser gente como afirmou num só sorriso quando anunciou a ida para uma escola melhor.

 Alguns arrependimentos piscavam sobre nós. As prendas, a mangação vendo-o dançar ao som do cavaquinho numa aposta para que pudesse ganhar um real. Não, não era maldade. Na dúvida rezei. Expliquei a Deus as brincadeiras. Haveria de entender. Senão Deus, quem mais? Mas por que ele o tirara de nós, por quê? Uma criança que queria crescer e ajudar aos pais. Só uma criança. O sol se escondeu e nem percebemos. Ao longe observamos os pais chegarem à casa que também era nossa vendinha. 

Estavam tristes. Dona Hilda apoiada sobre o ombro da filha chorava. O chiclete não terá mais o mesmo sabor, não será mais colorido ir à venda e não poder chamá-lo. E as prendas? Por certo não ficou chateado, era melhor que nós.

Taciana Valença



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domingo, 27 de novembro de 2016

NOVEMBRO...


Novembro mais uma vez indo embora, mas antes, me transformando. 

Entre achados e perdidos algumas coisas salvas enquanto outras serão encaixotadas ou mesmo jogadas ao vento, despretensiosamente, no indo e vindo desse grande palco da vida. 

Um mês forte que de alguma forma me renova, tirando e colocando o que faz sentido e o que não mais importa. Acena para que eu siga firme na encruzilhada desconhecida dessa vida. 

(Taciana Valença)
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quinta-feira, 17 de novembro de 2016

AQUIETAR-SE



De repente
Algo destoa
Corre mundo lá fora
Aqui dentro
Pressa contida
Um querer aquietar-se
Nos braços da vida
Perder-se num tempo
Que se quer parar
Sentir gosto,
Cheiro, sabor
Calor...
Tudo mais é cenário
Moldura
Aqui dentro
Um mundo em mim


(Taciana Valença)
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terça-feira, 15 de novembro de 2016

A POESIA DO OLHAR - FOTOS: TACIANA VALENÇA











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Lapso


Corpo arrasta alma
Pede calma
E essa lua
Que não vimos
Enorme
Sorrateira
Foi lapso 
De quartzo
Valente, volátil
Intáctil

(Taciana Valença)

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segunda-feira, 7 de novembro de 2016

## COLHEITA ##



Em dia de colheita
Sei dos pedaços
Achados na rua
Jogados, rasgados,
Frases soltas
Minhas, 
Dos sopros
Soprados no ouvido
Palavras pisadas
Por algum distraído
Ah! 
Vai ver que não gosta
Poesia,
Poesia....
E daí né?
Pisa o verso
Pisa a lágrima
Pisa a alma -
Já cansada
Esqueço coisas
Cutuca o poeta
Ser inquieto
D'alma doce
Lava o rosto,
Deita o corpo
Cobre a palavra
Acabou-se

(Taciana Valença)



às novembro 07, 2016 Um comentário:
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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

São Francisco


Em braços teus

Singrando sentimentos

Sorrisos e lamentos

(Taciana Valença)
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