E se me falares dos medos
Que teus mistérios rondam
Falarei das sandálias
Das amarradas tiras
Guardando rachados pés,
sobre solo severo
Da bíblia que ecoa,
em aturdido crente, ser descrente,
Das escadas, subindo ao nada,
Do vazio por do sol,
Q'esconde as vaidades,
Dos desencontros e desencantos
Atolados na lama,
Areia movediça...
Da vontade de jogar-se da pedra última
espatifando corpo n'água sedente de mim
Do rumo, que não se toma
nem se domina
Do aburguesar-se em mangas de camisa
Espumando esquisitos hábitos absolutistas
Da alma nua que invade a praia
Rumo à escuridão das profundezas....
Ah, se me falares dos teus medos
Poderei mostrar meu estranho ser
Sem configurações aceitáveis
Com rios de incertezas inabaláveis
Do abstraído ser,
Que nem mesmo é,
continuando sendo
Até não mais ser...
(Taciana Valença)