quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Sufôco




Seria vexame asfixiar,

debater enquanto sufôco,

se ver escurecer em prece.

Quem merece?

Conhaque, queimando entranhas,

amanhecer no labirinto da vergonha

sob o peso de uma fronha!


Era encontro de hora marcada,

de pontualidade medonha.

Não, não se mata assim -

não o que em si vive;

um desrespeito com a cegonha.

Deixe o cão enraivecido ladrar

lá do alto dos seus infernos!


As mãos levadas aos ouvidos

já não querem mais ouvir

palavras que escorrem da boca

sem freios, amargando na sala vazia

a frieza doce dos lábios descoloridos.

Mas sim, eu duvido

que sufoque até o grito!


Corre a buscar outro gole -

anestesiando a alma que sobe

pelas paredes e adormece no teto

gemendo pelo ausente,

buscando a São Clemente,

que decifre este mistério 

pelas sombras deste labirinto.


No mais que se finde o pesadelo,

o ar que falta sob o travesseiro,

o veneno, que pela dor deixou-se matar

e que por isso alguém viveu…

a manhã enfim trará o milagre

que se desprendeu das entranhas

amanhecendo em flores verdades.


Taciana Valença

 

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EU MORO NUM VERSO (TACIANA VALENÇA)