sábado, 14 de junho de 2014

VESTÍGIOS


Havia ternura e autenticidade
Por baixo daquela tinta gasta,
Na rosa dentro da garrafa, 
Na janela, entreaberta,
na toalha discreta,
E na quartinha;
Que sei, guarda almas,
Das goelas molhadas, 
Dos engasgos de sorrisos,
Ah... esses vestígios,
Teimam em corromper-me,
Invadem, cutucam e querem contar,
Contar as contas, os episódios,
Das gargalhadas, do comadrismo,
Dos ódios...ópios -
Tantos tolos segredos, 
Tantos fins num só enredo -
Conversas de calçada  
Das caras limpas e desarmadas
Dos pés na grama molhada,
De esconde-esconde nos becos -
Saias rodadas, rubros rostos
Levados a sério, 
pelos ventos de agosto -
Ah essa tinta gasta,
D'idos tempos que não bastaram
Guardados em resto,
na poeria sob o tapete, 
Nos rabiscos dos bilhetes -
No gelado doce daquele sorvete

(Taciana Valença)

terça-feira, 10 de junho de 2014

LUTO


A pior das perdas
É perder a si mesmo
Não há dor maior
Nem mais cruel peso

(Taciana Valença)

sábado, 7 de junho de 2014

HORA DE IR


É chegada a hora de ir
Juntar palavras
Ditas em vão,
Nm jargão -
Um tiroteio
de perdidas balas
Que não matam
Atingem, enfraquecem...
Esmorecem
É chegada a hora de ir,
Juntar as palavras 
Ditas em vão
Desrespeitar o coração

(Taciana Valença)



DESCRENTE


Peso sobre as costas
Lágrimas descrentes,
Perdem-se sob a chuva
Amigo que não crê
Vida que não se sente
Um olhar dormente
Uma palavra vazia
Jogada sem respeito
Na dúvida e seus efeitos
Solitário mundo turvo
Costas molhadas e frias
Coração encharcado e quente
Mundo doente

(Taciana Valença)



Por um descuido...

E se não há vida
É apenas coisa,
Coisa que se deixa de lado - 
Que usa-se, 
Como enfeite, como deleite;
Que fica lá, decorando
Pois não há nada que pulse
Muito menos que importe,
Então deixei-a morrer,
Acreditando sem vida
Sem sede,
Sem alma...
E assim deixei-a morrer,
A olhos vistos,
Num dia qualquer
Num vago perceber

(Taciana Valença)


sábado, 31 de maio de 2014

TEMPOS RUINS


Em tempos ruins
Que os ventos soprem...
Afastando nuvens, acalmando marés;
Mas que não levem meu cobertor, 
Abrigo único, refúgio da dor -

Em tempos ruins,
De rotas perdidas e 
Bússolas distraídas
Aguarda no convés, 
a  sorte, o revés;
o derivar d'embarcação
A  extrema unção

(Taciana Valença)


domingo, 18 de maio de 2014

Qudadrado BRANCO


Apenas um quadrado,
Branco,
Com quatro cantos
Onde possa encostar,
Descansar,
Mas é apenas um quadrado,
Nem paredes, nem encosto...
Sento; entre as pernas
Os braços seguram o rosto;
Fixos no branco, vagando vazios,
Firmes e frios,
Presa num quadrado branco,
Num redondo mundo, solto.
E na imensidão ilimitada,
Sou um nada.

(Taciana Valença)

sábado, 5 de abril de 2014

O riso do juízo


 

 
O sorriso sempre fora assim, contido.
Gargalhadas, poucas,
Sempre tão comedidas;
Um rabo de olho pela vida
Desconfiada, na defensiva.
Esperando sempre por alguma coisa.
Que coisa essa que não sacia?
Felicidade acanhada,
Vida assustada, na retranca.
Moça que não se lança,
Mulher que a si não alcança.
Um pé na valsa, outro no juízo.
Se a si coubesse,
Nem mesmo teria nascido.
 
(Taciana Valença)

INTIMIDADA


E eu que sempre me intimidei por tão pouco. Hoje me pergunto por onde anda o respeito das pessoas. Eu que  sou incapaz de deixar alguém falando sozinho, de sair no meio de uma aula, de colocar meu carro numa vaga exclusiva, mesmo que seja a última, de não dar um bom dia a seja quem for, de me aproveitar de um cargo para tirar proveito, de parecer mais do que realmente sou, de não me penalizar com a estupidez alheia, de não me indignar com a frieza do mundo...

Eu que sempre me intimidei por tão pouco, hoje estou entregue a esse mundo de loucos.

 

(Taciana Valença)


 Pintura: Romero Pontes


segunda-feira, 24 de março de 2014

ENCONTRO



 
Mansão de quartos tantos
Onde vaga a solidão
Nas mãos, cristal coração
Trincado pelos escorregões
Certa falta de equilíbrio,
Órgão tão sensível
Para se confiar a um general
Tão distraído pela tropa!
Objeto sobposto
Quase sempre a contragosto
Sob marejado olhar
Em dias de verborreias tão vazias
Mas a lua, brilhante e pura
Ilumina lugar e encontro
E o que há de tonto,
Mãos em roda se fazem
E por alguns instantes
O general se aposenta,
O pulsar reaparece,
Em ombros e confidências
Goles de paciência brindam à luta
Numa velada prece ao mundo
Que no fundo, no fundo
Nem mesmo sabemos se nos merece
 
 (Taciana Valença)

TEMPO

 
Chega um momento em que percebemos que não temos mais tempo
para quem apenas nos corrói o tempo (Taciana Valença)
 
 

EU MORO NUM VERSO (TACIANA VALENÇA)