Era um desses fins de
semana em que, para descansar da lida diária, viajamos para uma cidadezinha
perto. Íamos ouvindo música, curtindo a
estrada (que adoro), quando o telefone tocou. Não conhecia o número e até
pensei em não atender, afinal estava saindo para descansar, mas, como não
estava dirigindo, resolvi atender.
- Alô?
- Taciana?
- Sim, quem fala?
Foi então que o homem
começou a cantar:
- Sempre ouvi dizer,
que numa mulher, não se bate nem com uma flor, loura ou morena, não importa a
cor, não se bate nem com uma flor…
Fiquei sem entender e
perguntei novamente quem era. Foi então que respondeu: não sabe?
Bem, minha tolerância para essas
coisas de “adivinha quem é” não funciona. Desliguei o fone e disse: era só o
que faltava, tem um homem na linha querendo que adivinhe quem está falando e
ainda cantando música.
O telefone tocou novamente.
- Taciana? Agora você
vai saber: “você diz que ela é bela, ela é bela sim senhor, porém poderia ser
mais bela, se ela tivesse meu amor, meu amor…”
Desliguei! Cara maluco!
No carro disseram: deve ser um admiradordando uma cantada. Pensei: literalmente
uma cantada! Aliás, duas já!
Mais uma vez o
telefone. Desta vez não atendi. Como já estávamos chegando no hotel eu pensei:
vou deixar o fone desligado, afinal, vim descansar. E assim o fiz, durante todo
o fim de semana deixei desligado.
Quando cheguei no Recife
liguei novamente. Havia um recado na caixa postal que dizia:
- Taciana, é Claudionor
Germano, gostaria de falar com você. Ligue por favor porque se eu ligar você
desliga.
Sabe essas horas em que
a ficha vai caindo aos poucos? Foi então que me lembrei das músicas que cantou,
da voz, que só ouvia nos clubes e carnavais. Pensei: meu Deus, era Claudionor Germano
mesmo!
Liguei.
- Claudionor, é
Taciana.
A voz dele parecia de
alívio.
- Taciana, quero muito
falar com você. Desculpe pelos telefonemas, mas achei que ia saber quem era.
Não fosse esse meu
desligamento talvez eu tivesse atinado para as músicas e voz, mas sou
desligada.
Marcamos então na
Cultura Nordestina, da minha amiga Salete Rêgo Barros. Contei toda a história e
ela riu demais.
Enfim nos encontramos.
Ele queria agradecer a um texto que fiz em homenagem a ele na minha revista. Na
verdade uma pequena crônica falando sobre meu primeiro carnaval no Clube
Português.Não precisa dizer o quanto me desculpei pela indelicadeza de desligar
o telefone. Caso a edição estivesse sido recente, eu me lembraria, mas foi uma
edição mais antiga, por isso nem atinei.
Na ocasião me deu de
presente vários desenhos de Abelardo da Hora, uma coletânea que ele disse quase
não conseguir. Fiquei muito feliz com a delicadeza e ficamos amigos. Fiz uma
outra homenagem a ele na Livraria Jaqueira, com direito a poesia, música e
depoimentos de vários amigos. Na ocasião a poesia foi ensaiada com o grupo Som
da Terra, tornando-se música no CD dos 40 anos do grupo.
Deixo aqui a letra do
frevo, resultado da poesia com alguns ajustes do Som da Terra na melodia, fruto
desta inusitada história de encontro. Coisas assim parecem só acontecer
comigo.
(Taciana Valença)
NA VOZ DE CLAUDIONOR
Eu bem me lembro
Não podia esquecer
Foi meu primeiro baile
E estava a florescer
Ao som do Ela é Bela
Já dizia sim senhor
Quando o frevo começava
Na voz do Cantador
Sempre ouvi dizer
Que numa mulher
Não se bate nem com uma
flor
Esses versos tão
bonitos
Até hoje ouvimos
Na voz de Claudionor
Passado todo um tempo
De bons momentos
Que ele nos reservou
Deixando marcas de alegria
Dos carnavais
Que eternizou (bis)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui um comentário, é muito importante para mim. Obrigada.