sexta-feira, 11 de setembro de 2015

FELICIDADE A CONTRAGOSTO



Se prefere a dor
Prefiro descansar o ventre
No colo do teu coração
Prefiro deitar a boca
Nos lábios do que me é paixão
Deitar na grama suave
Sentir entardecer o dia

Se prefere a dor
Prefiro as flores,
Sorriso bobo
Leveza de ser apenas
Sem cobrar dos dias 
Mais que calma felicidade

Se prefere a dor,
Prefiro um sorvete,
Uma tapioca na esquina,
Um café de boteco, 
Correr feito menina;
Deixar a corrente me levar
Na vida desse grande mar

Se prefere a dor
Prefiro andar de bicicleta
Ver o suor escorrer no rosto
Encarar as paisagens 
Esquecer os desgostos
Tomar uma água de côco
E ser feliz a contragosto

(Taciana Valença)

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

OÁSIS





Sal que derete
Ponta da língua,
Saliva,
Boca seca
Salinando corpo,
Vazando n'alma
Sedenta de doçura
De cândidas verdades,
Mimos da vida;
Sede, sede, sede...
Banhada em sonhos,
Na loucura de ser oásis
Mergulhada silenciosamente
Na imensidão
De sucessivas marolas
Acariciando o que sangra,
Singrando em lapsos de loucura
Nadando contra ondas de verdades -
Imenso mar
Num eu oásis

(Taciana Valença)

PRAIA DOS CARNEIROS

















Verdes cabeleiras rendem-se ao sopro dos ventos, 
o mar, acanhado, lambe suavemente os pés da divindade, 
o balanço da rede, os pés virados para o horizonte, 
um convite dos deuses, um afronte. 
Dar as mãos ao mundo, correr na liberdade d'um universo. 
Jogar-se ao mar, mergulhando na morna carícia deste lugar. 

(Taciana Valença)

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

TONS DA VIDA



Equilibrar-se
No universo de tons que a vida me dá
Acertar as cores, andar no ritmo
Não perder o compasso do tempo
D'um larápio tempo que me rouba as horas
Extasiada findo o dia
Rubra noite que se clareia
Colchão d'água
Travesseiro de areia...

(Taciana Valença)

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

SINTA




Sinta as paredes se abrindo,
Tirando os problemas do ar...

Você não tem que dizer nada
Apenas deixe que eu olhe em seus olhos
E veja coisas que não via antes

Como o espaço
Que precisa para respirar
E sua vida, que precisa para viver -

Muitas lágrimas se perderam
No egoísmo de se ser somente em si,
Sinto muito...

Mas que se dane a dor que conhecemos
Por que um novo dia nasce em nós
E o sol que perdemos não ilumina o hoje;

E agora desejo apenas compartilhar  o seu espaço
Colocar o sorriso de volta em seu rosto,
Rondar o brilho dos seus olhos e sentir o afago da sua alma

O toque dos longos dedos
Acariciando minhas manhãs
E minhas manhas, 

Nossos amigos virão
E também irão embora
Não há nada que possamos fazer

Mas teremos sempre a nós
Nosso caminho,
Entre flores e espinhos

(Taciana Valença)


sexta-feira, 14 de agosto de 2015

NÃO HÁ O QUE ENTENDER


SE QUERES ENTENDER O QUE ESCREVO
PENDURA A EMPÁFIA NO CABIDE DO ÓCIO,
APOSENTE O SABERETISMO SUPERFICIAL
DE TUDO QUE SE APRENDE IGUAL
META PÉS PELAS MENTES, PELO VÃO DORMENTE
ACEITA OS GRILHÕES NATURALMENTE,
O SER LIMÍTROFE QUE HABITA NO ÂMAGO DO TEU SER
TÃO NORMAL QUANTO UMA LESMA 
QUE SE ARRASTA PELA VIDA
SE QUERES ENTENDER O QUE ESCREVO 
SAIBA QUE NÃO ESCREVO PARA SER ENTENDIDA
NÃO HÁ EM MIM NADA SOBRE O QUAL EU TENHA CERTEZA
E RARAS SÃO AS FRASES QUE LEMBRAM O QUE SOU
POIS SENDO UM TANTO O QUE ÉS
NÃO SEI DE ONDE VENHO,
MUITO MENOS PARA ONDE VOU
SENDO POEIRA SOPRADA NO ESPAÇO
EM ALGUM TEMPO INCAPAZ DE SOBREVIVER ÀS DISTÂNCIAS
E QUE ASSIM SENDO
NEM MESMO SEI SE AINDA SOU,
OU ESTOU NO VÁCUO D'UM TEMPO QUE SE FOI
TENTANDO CORRER ATRÁS DO QUE NUNCA FUI
OU DO QUE DE MIM RESTOU
SE QUERES ENTENDER O QUE ESCREVO
ENGAVETA TUA RETÓRICA
POIS NEM MESMO SEI QUEM SOU

(TACIANA VALENÇA)


quarta-feira, 5 de agosto de 2015

SE AVEXE





Se avexe para o bom dia, para o abraço apertado, para dizer que ama, para ceder aos impulsos contidos da compaixão e da solidariedade. Se avexe. Corra para o banho de chuva, para o milk shake que detesta regime, para ouvir o que o vizinho triste tem a dizer, para falar para aquela amiga o quanto é especial. Se avexe. Tire o sapato, corra na areia da praia. Deixe os dedos afundarem no chão e a água bater nos pés. Se der vontade, mergulhe, contemple. Se avexe. Diga aos filhos o quanto os ama. Deite junto na cama, converse, fale da infância deles e o quanto são importantes na sua vida. Se avexe e ligue para seus pais, assim, com tempo para ouvir as coisas que eles querem dizer mas você está sempre na correria e não pode escutar. Se avexe, fale com Deus sobre sua vida, segredos, alegrias e angústias, mesmo que não acredite em Deus, fale mesmo assim, pois o grande Deus na verdade habita em cada um de nós. Se avexe em ser mais gente, pois amanhã a página da nossa vida pode estar em branco e podemos, agora, estar perdendo nossas últimas oportunidades para sermos o melhor de nós. (Taciana Valenca). BOM DIA.

domingo, 26 de julho de 2015

A MENINA FRANZINA

A menina franzina não comia mais. Ansiosa em noites de sol intenso, embarcava em seu armário. Seus melhores momentos do dia estavam ali, a um passo dos seus olhos. E era só entrar para sentir da vida um outro colorido. Não importava se não descansasse, ela não sentia sono, sentia vontade de coisas boas. 
Na sala, antes de dormir, seus pais mal olhavam em seus olhos, pois ocupados estavam, absortos em seus mundos "on line" e seus problemas. Era apenas um "boa noite" raso e sem emoção. Nem uma conversa, nem mesmo uma lição.
Ah! Quantas surpresas encontrava na madrugada! Logo logo atravessou a porta. Seus amigos estavam lá, jogando bolas de gude na areia. Nossa, os amigos da escola olharam para ela tão atravessado quando comentou que poderiam arranjar bolas de gude. Nem mesmo procuraram saber o que era, continuaram em seus jogos nos celulares. Ela estava tão perto, mas preferiam conversar no "Zap". Coisa fria, sem emoção! Os amigos do armário sim, sabiam viver! Bolas de gude na areia, brincar de se esconder, queimado, pés descalços sentindo o chão, brincadeiras de pega ladrão. Ah! Não trocava seu armário por nada não! Eles não tinham celulares, mas tinha os mais exemplares pais. Mães que  serviam cachorros quentes depois das brincadeiras,  chamavam para fazers brigadeiros, conversavam sobre tantas coisas. Os pais mal chegavam e se chegavam, arregaçando as mangas, querendo participar. Melhor que a vida no armário não há!

(Taciana Valença)

quinta-feira, 25 de junho de 2015

ARMADILHA


Algumas coisas nos devoram. 

Silenciosamente sugam, aproveitando quando baixamos a guarda em sinal de confiança. 

É preciso estar atento, pois às vezes o que percebemos pode ser o último clarão antes da total negritude. 

(Taciana Valença)

domingo, 21 de junho de 2015

À DERIVA




Pergunta-me por onde andei -
E nem mesmo sei desses lugares  de mim,
Pés descalços, livre enfim
Servindo marafo a Exu,
Tomando vinho com pomba gira
Noites frias de balangandãs
Protegida por amuletos
Dormindo em colchões  de mistérios
Escondida em conventos
Onde trancam sentimentos,
No balançar das cadeiras dos velhos sobrados,
Ou  largada num banco de praça,
Numa frescura cheia de vazios
Um vento friiioooo....
Inquietando a costela,
Correndo a acender as velas,
Q’esquentam como um abraço...
Do céu alguém me jogou um laço
Para me debruçar sobre o mar,
Ah...meu eterno confidente,
Frio na barriga ao ver tua imensidão,
Manchado com tinta de lua
Onde um barco dorme em solidão
Perguntas por onde andei

Foi no rastro do barco sem direção

Taciana Valença

quarta-feira, 10 de junho de 2015

E POR FALAR EM FALENCIA...



Deixara ali os versos
Esquecidos sobre a mesa
Inacabados, riscados,
Esculturas decepadas
Algo que não se findou...
Dias e dias, mesa fria
Apodreceram úmidos
Junto ao resto do café na xícara
Baratas rondam, rondam, sem entender -
Café, pra quê?
Ainda mais com adoçante!
Giram tontas entre os papéis,
Amarfanhados, desprezíveis
Acanhados,
Flor suplica sua dor
O poeta não voltou,
Mesa imunda se consome
Na podridão do que lhe restou


(Taciana Valença)

And speaking of bankruptcy

Left here the verses
Forgotten on the table
Unfinished , scratched ,
severed sculptures
Something not ended ...
Days and days , cold table
rotted wet
Along the rest of the coffee in the cup
Cockroaches roam , roam , without understanding -
Coffee, for what?
Especially with sweetener !
Turn dizzy among the papers ,
Crumpled , worthless
sheepish ,
Flower begs her pain
The poet did not return,
Filthy table is consumed
The rot that had left


( Taciana Valença)

EU MORO NUM VERSO (TACIANA VALENÇA)