sexta-feira, 18 de agosto de 2017

A SÓS ENTRE ELES


Senti seus passos, ansiosos, enladeirados...
Soltos sentimentos entre o céu e a Terra,
E quem dera bater as asas, por entre as flores
O colorido que fascina, trazer alguém de volta
Sentar no pico da montanha;
Entre os pais, do céu e da Terra...
Rir do passado,
Passar a vida a limpo,
Saber o que querem, 
Logo eles, que de tanto estarem,
Sente ausência
Contraditório olhar essa imensidão
E sentir esse vão que nada preenche,
Nem seus passos ao infinito,
Nem o pássaro mais bonito...
Sim, agora toma seu café,
Ele é real


(Taciana Valença)

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

ENTREGA


Lá de baixo vi apenas a luz, penetrando entre as rochas.
Estava terrivelmente só, numa felicidade sem nome.
Pés descalços, jeans molhados, grudados no corpo. 
Cara e alma lavadas, pele arrepiada envolvendo o quente coração.
A chuva sim, sempre foi tudo, sempre foi plena, despojada, despejada sobre qualquer um; e me ofereci a ela na ânsia de que escorresse, confundindo-se com as lágrimas.
Ela escorria e me sorvia;
Eu lhe sorria...
(Taciana Valença)

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

FIM DA CONTENDA (Taciana Valença)





Aos meus olhos, envolto em halo tu surgias,
E era como tocar a felicidade e guardá-la em canto meu,
Mais doce saudade, luz do meu breu,
Que de tanta espera, por horas nada mais havia

Quieta como menina a esperar dobrar a esquina,
Foi o experimento mais doce e longo
A ansiedade, a voz, o encontro,
O íntimo pacto, o oxigênio do que fascina

Riso cansado, mas firme e feliz,
Minha paga, minha praia, minha praga,
Que enfim nada mais me traga

Não mais batente, nem pracinha,
Riso que nem mais sustenta em causa minha,
Fim da contenda, guardo a meiguice, demovo o coração

(Taciana Valença)







terça-feira, 8 de agosto de 2017

NÃO DESTINO, DESATINO

Não destino, desatino
Lira única a sacudir o colchão,
U que se encaixa na cabeça,
Santo travestido de besta,
Luta entre o sim e o não,
Calos canaviais,
Algum santo que por mim reza,
Freando a fresa, e a cabeça gira,
Mato doido, cannabiais...
Hóstia que em mim padece,
Engolida a seco,
Vagando pelos becos
Para jamais chegar na casa
Ó pratos sujos do pó de uma era,
Rumando a um não destino,
Resto de vida, desatino...
E eu aqui. Pra quê?

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

ACALENTANDO PENSAMENTOS


Pensei que já havia pensado além da conta
Quando me dei conta de que em nada ainda pensei,
O pensamento vai, faz a curva, pego de volta,
Num quê de revolta me aposso,
Deixo ficar, passar o veraneio;
Vai que precisa de sol!
Mas vento chega tão frio,
Veludo coração em breves arrepios,
Expulso das colchas e das coxas,
Num expurgar d'impulso;
Solto o pulso,
Esbravejo, julgo de espúrio -
Volta e meia, andar silente,
Guardo, escondo, acalento,
docemente...


(Taciana Valença)

PLENO AMANHECER


Ontem num rompante fechei portas;
Na madrugada de mim me desfiz
Rubra em flor de liz,
Acordei, não estava morta!

Distraída deixei janelas abertas,
Um chá, numa noite insone,
Num aconchego sem nome,
Ao despertar percebi rosas pelas frestas,
Sou terra fértil, arada
Semente boa deve ser cuidada,
Nasce então o pomar do desejo
Suspiros, pele, toques,
Um quê de me provoque -
Tão plena em plena luz do dia!

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

ALÉM DAS ESQUINAS


Talvez haja um saldo
Algo que valha a pena saldar,
Ultrapassado sobretudo amar?
No carregar de tanto fardo?


É preciso nos quereres renascer,
Pois imenso é o mar que nos abriga,
Ainda temos tanta vida!
Por que não outro querer?

O canto dos pássaros não assusta,
Nem mesmo do horizonte a linha,
Não seja teimosa alma minha

Acenda as luzes
Olhe dos quartos as quinas,
Vá além das esquinas!

(Taciana Valença)

CALOS DA VIDA





Desde que debulhar a vi
Entre sujas mãos,
Jogando cada grão
Como a parir –

Parindo a comida,
Entre suores e lágrimas,
Escrevendo suas páginas
Riscadas e sofridas

Eu boba, apertado coração
Calada olhava sua sina,
E era tão menina;
Em choro de emoção

Meu mundo era  um sim,
O dela um não parecia,
Calos em água de bacia;
Sempre sofria assim…

(Taciana Valença)





INFINITO DE MIM




Alheia sim… Já tantos dias…
Quanto menos olhos e ouvidos
Tanto menos da vida duvido,
Vida servida em fatias…

Quem dera o olhar distante,
Anos luz, quem sabe,
Onde restaria só saudade,
E nem mais constante

Se misturam tantas vozes,
Na minha não mais emoção,
Soltas enfim as mãos…
Em redemoinho de atrozes!

E nada há de ser para sempre
Tantas cores e formatos das gemas,
Que a vida enfim,  gema…
Libertação, grito ardente!

Não sou mais tanto,
Quando um dia fui,
Apenas réstia de luz,
Em dia d’algum santo

Morrer então
No infinito de mim,
De dor nem tanto assim
Para que não tenha sido em vão


(Taciana Valença)


quinta-feira, 3 de agosto de 2017

AMOR DESAVISADO




Não, 
Não coloco palavras na tua boca,
Mas a boca, língua e alma
Nas tuas palavras,

Ah, esse córrego pulsante,
A desembocar sempre
Em agitadas águas
Do peito que hei de encostar

Tsunamis  e calmarias
D'um amor desavisado,
Mas pretensioso,
Que sabe de si em tanto

(Taciana Valença)

EU MORO NUM VERSO (TACIANA VALENÇA)